Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

Respirar...
Meus dedos precisam respirar...
Minha mente corre
Demasiadamente

{Retorno em algum ponto de 2008}

Não quero ver ninguém
Até que tudo esteja pronto
Até que o ponto
Não tenha mais final
E o sentir me cegue no infinito

Só quero ouvir a seda
Até que meus ouvidos sejam música
Até que o tom
Não desafine mais
E que as rugas me corroam de saudade

Mas preciso voar...
Percorrer esses caminhos floreados
Até chegar num fim que dê em flores
E seja o possível começo da eternidade
Preciso levar...
Precisamente por águas tranqüilas
Até que os corpos fiquem à deriva
E chegue o momento de se dar as mãos
Face a face...

Suas barbas estão de molho
Mas a água há de secar
Esta cadeira que não mais balança
Um dia sairá do lugar
E olhe as lâminas
Apontadas para o depilar
A face nua outra vez
O semblante da fragilidade no ar
E a máscara
Que todos esses pêlos teceram
Solverá como talco no vento
E a mão que estava à espera
Afagará com o pó
A face multilada
Liberta.

Minhas páginas desse disco
Eu não me mudo
Não saio desta cadeira de balanço
Definho no meu ranso
Mas me afasto fatalmente disso

Como entranha do prefixo "des"
Desconfiguro, desarmo, demancho
Todo esse pó de lágrimas
Em sangue quente e viril
Uma cabeça como um lado de vinil

Eu nasci não sei há quantos anos mais
Não conto pra frente nem pra trás
Dobro esquina em esquina
Enxergando minha sombra idosa
Querendo voltar pra trás...
É noite...
E minha alma vive à frente de tudo
Inclusive de mim
Em resguardo à sua moradia
Estou de tudo ausente e fora
Fora de moda, da linha do tempo
Sempre o meio termo decidido
Começo de tudo para os dois lados
Eu sou a circunferência resumida a tudo.

Eu sou como um barco
Nunca à deriva
Encalhado em terras ermas
Eu sou aquele que não flui
Me desapego àquele mar
Salgado...
Espero o córrego que me leve
Tão doce...
À deriva
Eu sou aquele que se navega
Ao fluxo
Ao ar
À correnteza
Às rodas
Aos pés
Eu sou aquele
Que sempre navegará sozinho

Marinheiro
Pega a minha mão
Me joga nessa embarcação
Paravoarmos sós
Marinheiro
Eu vou sem a minha bagagem
Pois é só ida
Não tem volta não!

Não sou portador da esperança. A esperança que me transporte por seus lados. Sou apenas reportador dos meus anseios. Por isso penso. Causa malígna que me condena à meticulosidade de tudo que se passa. Pensar é o que alimenta minha ânsia de tudo; holisticamente da expectativa das coisas e do sofrer antecipadamente, efeito da capacidade de pensar e achar que tudo é premeditável.

Por isso escrevo. Pois a gangorra em que o ato de pensar me faz sentar sobe e desce: eu no extremo vivente, o vazio no extremo pensante. Quando subo, a vontade priori é de despencar lá de cima para que o pensamento voe como de uma catapulta. Mas prefiro me atirar aos papéis, porque o peso das palavras me faz por os pés no chão. E é aí que a esperança me encontra e me transporta para seus lados.

Estou começando a descobrir que meus sentimentos são letrados. Da próxima vez que houver transporte da esperança, pegarei carona de sua mão canhota e escreverei uma receita do sentimento vivido; para quem sabe um dia, carregá-la comigo. O pensamento é algo cabuloso.

1º) Pegue um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2º) Abra-o na página 161;
3º) Procure a 5ª frase completa;
4º) Poste essa frase no seu blog;
5º) Não escolha a melhor frase nem o melhor livro;
6º) Repasse para outros 5 blogs.

"Os lavradores do passado só tinham condições de arrotear escassas leiras à volta das aldeias; mesmo na Idade Média, não passavam de alguns hectares."

DREW, D. Processos Interativos Homem-Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

Eu amaldiçôo:

1. Rômulo;
2. Eduardo Valença;
3. Marcus;
4. Rodrigo;
5. Diomedes.

Olhe o controle
Está em suas mãos
Não o botão
Apertá-lo
Ou deixá-lo estático
Sem ação

Olhe o controle
Não está em suas mãos
Vem outro
E toma posse
Ou pode cair no chão
Danificá-lo

Automática
Mente
Desgovernado
Peito aberto
Olhos fechados
Dois pés na beira
Asas...

Quem era Virgínia? A irmã apaixonada pelo cachorro da cunhada. A filha da pederastia do pai com o tio. A colega apaixonada pela mãe da aluna, que por sinal era sua professora. A menina muda e nada surda que nas tardes após os deveres de casa ficava abaixo do fícus da praça ao lado de sua casa e escrevia o cheiro de seus cabelos; de forma a imaginar que todos iriam sentir o cheiro que as letras descreviam. Era a garotinha que abria a caixa de música que sua avó deixou antes de morrer, precedido de um beijo na boca, toda noite antes de dormir.

Quem era Virgínia? A adolescente que ia crescendo sem saber quem era e não fazia a menor noção de quem seria: apenas Virgínia até então. A menina que tragou seu primeiro cigarro aos quatorze anos e que aos dezessete ainda fumava calculando quantos dias passar com uma carteira de cigarros: no mínimo três dias. O máximo que ela conseguira fora dez dias. Ela também respirava antes de acender o cigarro e sempre dizia “mais um para uma morte lenta”.

Quem era Virgínia? A mulher que passou por todos os momentos possíveis e passou por todos. E que agora nada mais queria passar. Lia apenas seu diário com diversas descrições aromáticas de seu cabelo infantil; e sentia todos os cheiros profundamente. Inclusive o de feijão queimado. Era Virgínia, virgem, louca, sã, inconseqüente, calculista, metódica, mas ainda continuava muda e nada nada surda.

Quem era Virgínia? A velha no leito de morte a se olhar no espelho do seu quarto de asilo a se perguntar “quem não era Virgínia?”.

É saber, é sonhar
É viver, é sentir e ir ver
É não ver
Deparar-se repentinamente
Ter em confirmação
Daconjugação do verbo SER

Não estar, não marcar
Não morrer, nem chorar e correr
É mover
De um lado a outro
Sempre tudo solto
Já sabendo que rumo vai dar

Eu sou o que não estou
Tu não estás onde serás
Ele não é nada daquilo
Ela está a me visitar
Nós não somos nenhum guia
Vós estareis do meu lado
Eles não são deste estado
Elas estão onde serão
Tudo em seu jugamento
Devidamente separado
Ser e estar conjugado.

Centro
Um giro
Uma volta
Do ponto
Remete ao centro
Giros
Voltas
Pontos
Centros
circulares
Sem fim...

Eu tenho as minhas pedras
Para por em troca de algo dourado
Eu me guardo atrás dos livros
Fico escondida no giz
Eu transformo esperança em fada
O meu mundo é tudo o que eu quis
É labirinto que corro de olhos fechados
Eu sou a flor que nasce da morta raíz

É uma gota de orvalho
No meio do nada
Flamejando de ódio
Dizendo que nada é igual
Lá no fim eu sei
Que tudo dá num reino
Onde não há dúvida ou medo
Não existe nada ruim

A vida é um ciclo. O mundo é um ciclo. Leva 24hs para dar a volta em si. O homem faz parte desse ciclo e gira 24hs por dia junto com o mundo. Mas nem sempre se (quer) vê (r) o que se passa nesse ciclo. Um ciclo que engloba homens, animais, vegetais, inteligência, moral, liberdade - essa nem sempre cumprida e compreendida -, ética - que se confunde com moral, que se confunde com a capacidade de nem sempre ver as coisas -, e com muitas outras coisas que giram com o mundo, independente de se querer ou não. Inteligência, aspecto este que, se girasse 24hs por dia na cabeça dos humanos, assim como gira a Terra, todas as coisas que junto com o planeta giram, tudo seria um ciclo; tudo seria livre, moral, com eqüidade; tudo seria humano. Ou tudo seria Terra?

Lado A

Eu procuro por todo lado
Abaixo a tampa da vitrola
Eu viro o disco
E me arranho para encontrar
Eu me apanho desligado
Fico antenado quando deve
Eu sintonizo o mesmo aparelho
Atravesso a esquina
Eu viro o disco
E ainda ouço a mesma música
Eu me arrisco cegamente
Não me ponho em risco
Eu vou cautelosamente
eu viro o disco
Eu me vejo parado na loja de cd
Sempre à espera
Não sei de quê, não sei de quem
Eu fico em rota
Em rotação por minuto pulsando
Meu pulso perde a rota desse leme
Eu procuro por todo lado
Levanto a tampa da vitrola
E mais uma vez...
Eu viro o disco
*
Lado B

Eu viro o disco
E mais uma vez...
Abaixo a tampa da vitrola
Eu procuro por todo o lado
Meu pulso perde a rota desse leme
Em rotação por minuto pulsando
Eu fico em rota
Não sei do quê, não sei de quem
Sempre à espera
Eu me vejo parado na loja de cd
Eu viro o disco
Eu vou cautelosamente
Não me ponho em risco
Eu me arrisco cegamente
E ainda ouço a mesma música
Eu viro o disco
Atravesso a esquina
Eu sintonizo o mesmo aparelho
Fico antenado quando deve
Eu me apanho desligado
E me arranho para encontra
Eu viro o disco
Abaixo a tampa da vitrola
Eu procuro por todo lado.
*

Sem nada daquilo trivial
Clichê de modos universal
Eu me tenho mais que tudo

Sou nada daquilo que se pensa
Nada tenho do sentir, lembrar
Nada tenho do morar, chamar

Eu me tenho mais que tudo
Nem sombra que me dupliquei
Eu mais eu igual nada

Cospe para cima
Tudo desintegra
Onde nada é o nome de tudo
Eu sou tudo diante do nada
Ninguém me conta da tabuada
Onde tudo vezes tudo igual a nada

Sombra...
Saliva...
Clichê...
Você, eu...
Em tudo... nada
Sem dor, sem perfume
Sem lume ou frescor
Sem começo, meio e fim...
Com nada!

(continuação de "Sem Nome", "Sem Residência", "Sem Lembranças" e "Sem Sentimentos". Conclusão da série "Sem Nada".)

Um poço de nada
Nas águas profundas
Não tem residência
Memórias desnudas
Inominado a qualquer outro ser
Um poço vazio
Sem nada
Sem mágoas

Que pode fazer?
Que pode sentir?
Apenas abrigar...

Que pode fazer
Por alguém que não se chama
Que pode sentir
Por alguém que não se lembra
Apenas abrigar
Por alguém que não se mora

Que pode fazer?
Que pode sentir?
Apenas abrigar...

Um poço de único
Onde em tudo
Se sabe é de nada
E nada no vasto profundo
Das águas dos sem sentido
Afoga-se no esquecimento
De olhos fechados aos sentimentos
Um poço de nada, sem mágoas, sem nada.

(continuação de "Sem Nome", "Sem Residência" e "Sem Lembranças". Parte da série "Sem Nada". Finaliza na pt. 5 em "Sem Nada [ou Com Nada].)

"tempo tempo tempo tempo"
se tu não fosses tempo
que seria do meu sangrar
que seria do meu veneno
que seria do meu penar
"tempo tempo tempo tempo"
se tu nao fosses tempo
como seria sem nada passar?

(poesia inspirada pós-leitura do blog: http://maisummenosdois.blogspot.com/2007/11/ive-got-love-for-you-if-you-were-born.html com citação da citação feita no post de Caetano Veloso)

São elas
As malditas percorrentes
Das vias cerebrais
Me preenchem de fatos
De fetos, de desgostos
De engodos e depravação
Reprovação evacuada nos esgostos
Militantes presos na corrente

E agora foragidos
As malditas percorrentes
Me passeiam provocantes
Despertando emoções alheias
Vis, imateriais, imorais
Recordações, não mais memoriadas
Chuva de lavagem crucial
Cerebral formatação de tudo...

Menos de mim
Que permaneço ao meu redor
Repleto de nada
Sigo agora sem momento
Sem lembranças, sem medo
Sem gelo, sem frio ou calor
Somente os cabelos ao vento
Virgem do pesadelo mediocre
Que apagou minha memória
E eu começo em mim mesmo...

(continuação de "Sem Nome" e "Sem Residência". Parte da série "Sem Nada". Continua na pt. 4 em "Sem Sentimento")

Nada mais tem nome nesse país
Só eu tenho, mas não tenho residência
Nem telefone, nem e-mail
Ou qualquer comunicação para contato
Eu só me tenho...

Só quero achar o 5 do 2+2
E despistar meu ponto fixo
Não há casas, nem peito, nem abrigos
Só há o céu reluzente do meu mundo
E o chão dos mortos onde piso

Tire esses números daqui
Que meu lugar não tem número
Não tem rumo o jeito meu
Nem prumo o meu destino
É uma linha começo e fim
Para quando chegar o meio
Passar o trem e eu partir...
Sem residência!

(Continuação de "Sem Nome". Parte da Série "Sem Nada". Continua na pt. 3 em "Sem Lembrança")

Sempre sem nome
A partir de agora
Nem um filho nosso
É o que dá jantar sozinha
Sem nem me convidar

E continuará sem nome
Inominado este passatempo
Inanimadas serão minhas letras
Sem titulo com seu intento

Sempre sem nome
A partir de agora
Nem um filho nosso
Somente eu para assinar
Minhas letras e o divórcio!

(Primeira parte da série "Sem Nada". Continua na pt. 2 em "Sem Residência")

O que você ouviria para escrever algo profundo? Não sei se seria bem a necessidade de escrever algo profundo ou ouvir algo profundo... mais profundo do que o que se possa expressar poeticamente. Arvo Pärt é sempre uma resposta milimetrada. De tal forma que preenche o vácuo que a profundidade da situação me deixa e evacua de forma simples palavras que precisam ser arrancadas... esvaziadas de mim. Por pouco, muito pouco, senão momentos raros a prosa me abaraca de forma abraçante e desumana. Talvez a objetividade que a maioria de suas produções exigem eu corra para longe dela de forma a me aproximar mais rapido da subjetividade e da psicodelia da construção estrofal da poesia. Uma cirurgia. Tá aí, não escrevo coisíssima nenhuma. Sou nada nada de poeta. Sou um cirurgião. Mas tudo acasualmente, porque na verdade queria ser (quero e serei) um músico. Só não sei a partir de quando.

Ouvindo "Ludus", da peça "Tabula Rasa", do conjunto de sinfônias de Arvo Pärt.

Dois olhinho pequeninos
Pequenininhos como tu
Meu corpo segue a ordem desses olhos
Que alimentam sentimentos meus

Toda primavera em seu fim
Um calor não só de vento
Todo um horizonte musicado
Das notas que me ligam ao teu

Sempre assim,
Tudo a correr
Um costume acostumado no meu ser
Não é ruim
Nunca ruim
Sentimento impregnado no eterno
Eternamente dividido ao existir
Cada um com seu espaço organizado
Onde nunca se acaba sua lembrança

E esses olhinhos pequeninos
Pequenininhos como tu
Que farão dessa estante organizada
O que se passa vem por dentro e é outra coisa

Este é o meu desenho
É como entendo as linhas
Você não pode abrir a boca
E dizer que não sei desenhar

Estas são as minhas letras
Independente de quem faça
A música delas é minha também
Pois sairam das minhas letras

E em breve sairão do meu ventre...

Ligue-se assim
Em tudo que se passa
São sempre dois pontos
Um ponto
O outro contraponto

Repelem-se assim
Quando o ponto se aproxima
Está tudo determinado
Um ponto
O outro contraponto

Não desanima quando tudo
Somado a tudo que nunca se pensou
Se esvai feito água no chuveiro
Ralao abaixo te escorrendo para longe de tudo
Está tudo sempre tão óbvio entre dois pontos
Que quando dois não somam dois
É sempre um ponto e um contraponto

Veja-se assim
Que os limites termináveis
Chegarão sempre no fim
De um ponto
Ou um contraponto

Saiba-se assim
Chegará o dia inesperado
Em que a soma do infinito
Juntará um ponto
E um contraponto.

Hoje quis dar braços e pernas
Quis dar vida...
Uma boca e um coração
Àquele bilhetinho laranja

Li cada letra da mensagem
Como uma parte sua
Na intensão de preencher
Essa presença espectral maravilhosa
Que me torna tão vazio

Hoje descobri que nele encontro conforto
Descobri a prova de um começo
Que não quero que tenha fim
Então resolvi que sempre que ficar vazio
Vou ler o bilhetinho como a primeira vez
E escrever uma resposta até que os dias passem
Até que eu não leia o T. A. M.: que eu fale e escute!

Saudade é nada
Em tudo que passou
Agora impregnado no meu ser

Saudade é pouco
Do muito que inflei qual balão
Voando zeppelin no desconhecido

Saudade é nada
Em tudo que retornou
Agora masturbador de meus desejos

Saudade é pouco
Do muito que rapidamente passou
Tão lento que é para se passar

Senão tão impossível
Possível de se voltar atrás
De olhos fechados mergulhar
Em meio as rochas nesse mar
Nesse oceano de paradoxos inesquecíveis

Senão não é nada perto de saudade
Saudade é nada longe de tudo
Saudade é pouco pro que respiro agora
A dar meia volta em si
Olhando até quando não for mais saudade.

Ao Rio de Janeiro

O que serão das ondas
Quando a água virar música
Quando todo úmido concreto
Abstrair de forma espectral?

O que serão das rochas
Quando o vento as dissolver
Quando o vento não mais se esbarrar
Em nada mais que o próprio vento?

O que serão das cores
Quando todas as casas
Esitverem pintadas de branco
E o branco o grande vão das idéias?

O que será de tudo que foi
Quando o que já é for passado
Quando o futuro não mais programado
Em nunca se saber o que encontrar?

Rio de Janeiro, Humaitá.

Mão com mão que lava a outra
Ainda assim que sendo duas
Mesmo ainda sendo quatro
Cada uma é uma só.

Rio de Janeiro, Janela do Roger, Humaitá.

Em tudo o que quero
E não penso no adiante
Esperei por esses dias
Um calor irremediavel

Ao passo que vejo
Abro a priore o olho esquerdo
Abraçando com o pé de mesmo lado
Frio como os lagos europeus

Me encravo numa ilha
Montada em dez andares
Meditando no sexto labirinto
Resguardado no frio da quente cidade.

Rio de janeiro, aeroporto santos dumont a espera da teresa

O supermercado parou. Os caixas pararam, as filas congelaram seu prosseguir. Exceto ele. Alí. Cansado. Idoso. Sem aguentar a insistente senhora que pedia para que ele saisse da fila e passasse à frente de todos. "O senhor pode passar! Passe!". "Não!" falou o velho à insistência da senhora gorda à sua frente. "A lei está com o senhor! Pode passar, é só um refrigerante. Eu quando tiver a idade do senhor passo à frente em qualquer caixa." Que se dane a lei! Eu quero ficar na fila. Que seja velha a senhora quando tiver a minha idade!".

Ela não entendia que o velho estava feliz naquela fila segurando sua PET de refrigerante. Estava vendo gente. No meio de gente de pouca idade. Ele estava fisicamente novo de novo. Como sua alma. Estava vivo!


No ar em algum lugar da Bahia ou Minas Gerais a caminho do Rio de Janeiro.

- Onde está, Simone
O coração daquele bamba?
- Pulou pra fora da cerca
Caiu na casa de Seu Doca
Foi confundido com qualquer peça
Cortado em mil pedaços
Vendido por bagatela
Em mil corpos degustado

- O que eu faço, Seu Doca
Pra ter de volta o coração daquele moço?
- Peça ajuda de Simone
Mas creio que não tenha mais jeito
O jeito é todo mundo viver
Com o coração do bamba
Pois já dizia o moço
Que o coração não é de um só

Pois então está tudo sambado
O bamba sem coração
Simone sem o seu pedaço
Seu Doca partiu do moço o coração
E cada mil com um pedaço.

*Título por Rômulo Bartolozzi

O que respiro
Passa em mim
Como o que sei
Da forma que entra
E quando se sai

Será que isso é só saudade?
E me despeço e boa noite
Com um joguinho de palavras
E sinto os seus dedos
Enlaçados em meu cabelo
Fecho os meus olhos meigos

O que se surge
No leito sem rumo
Como o que não sei
Suponho sua forma
Da falta que me lembro

Fecho os meus olhos meigos
E sinto seus dedos
Enlaçados em meu cabelo
Com um joguinho de palavras
E me despeço e boa noite
Será que isso é só saudade?

A Roger

Quando o gato sentou no meio da praça, ele se viu só. Materialmente só. E todo aquele sentimento fazendo companhia. O cachorro havia seguido seu caminho até a casa. Enquanto os coelhos se abrigavam do vento frio no nono andar: aos pares; aquecendo-se. E o gato no térreo da praça olhando as nuvens chuvosas no céu da madrugada. Estas só davam espaço para o minguar da lua ilminar a única estrela luzente.

E todo aquele sentimento acompanhando a sua tranquila solidão. Não mais era necessário abrir os olhos para ver a luz celeste da madrugada misturada aos postes de iluminação vermelhamente artificial. De olhos fechados as luzes dos postes se apagaram. A luz da lua, e só ela, adentravam às pálpebras peludas. O rosto do pombo se materializava cálido na mente. E tudo se misturava ao sentimento.

Era injusto o pombo saber voar. O gato em sua máxima sabia pular. E baixo. Os coelhos nem se preocupavam em saber se o gato poderia voar um dia. Ele poderia ter se jogado do nono andar enquanto o cachorro assistia. Mas foi preferível pegar o elevador e usar as asas da imaginação e esperar... até que o gato criasse asas e voasse para onde o pombo estava. A saber se chegaria o dia a que viessem a voar juntos.


(... porque nas fábulas os animais falam; aqui eles voam com a imaginação)

Nessa linha nada desenhada
Recorro ao risco oriundo
Onde o horizonte passou pela porta
Na mente da casa a mim tão distante

Na pauta cronológica estagnada
Nada de novo antes da linha de ontem
E quando for domingo
Reazarei que só me falte mais um

E quando tudo se alinhar?
Será tudo agrupado sem tecla desfazer
Ou cada lápis irá desenhar
No mesmo papel reclinado
As duas linhas de cada parte
Até que se juntem com o infinito

Nessa linha nada desenhada
Caminho de olhos fechados juntos ao distante
Que torce em meu peito a pauta anterior
De um futuro nada obstante

Na pauta cronológica estagnada
Desenho sem letras o meu horizonte
Até que o infinito não mais separe
Duas linhas em horizontes distantes.

A Roger

Trago no olhar a certeza
De um olhar retilíneo
Que balança a cada passo
Em cima da corda que passo.

Na corda bamba da vida não passamos de "bêbados equilibristas"!

Eu não estou parado. E quando paro olho para o céu. O mundo não gira. Nada gira! Nem o vento sopra para provar que o mundo gira. Minha vida nao gira. Não anda. Nem quando eu ando ao redor do mundo para ver se ele anda... se ele gira!

É quando estou mais eu
Passeando por dentro de mim
Observando todo o movimento
De minhas ruas que não conheço
Que até me esqueço dos outros

É quando ponho os pés no firme
E o firmamento fica distante
De todos os pratos que giram
E vira tudo realidade interna
O mundo não está mais alheio

O sopro vem e me flutua
Pra perto de onde as ruas
Me afastaram sem mim
Sem o meu querer querido
Abre em meu peito a cicatriz
De todo um sentimento sofrido
E os pratos giram entorno do fim

É quando já não sei do tráfego
Tantas placas e tantos sentidos
Reunidos num só desgovernado destino
Em tanto "se" de um futuro presente
Onde todo passado está reunido

É quando me encontro na rótula central
E o tráfego te leva pra onde
Minha alma cega pra te ver
E eu penso a todo segundo
Que é hora de parar o passeio.

A Danila

Veneno de cobra peçonhenta
Em pescoço de dragão
É desperdício imperdoável

Mas o susto da picada
Leva o dragão a engasgar
E engolir o prórpio veneno

O antídoto desta fatalidade
Não se compra, não se fabrica
Está naquilo que é imprevisível

Só o tempo irá dissipar o veneno
A saber se o efeito do momento
É culpa da cobra ou do próprio veneno?

Este ponto de partida
Marca a chegada
De onde eu sairei

Um ponto
Apenas uma parada
No meio da avenida

E os carros passam cegamente
Loucamente ávidos pelo destino
E os carros voam apressadamente
Como se não fosse necessário esperar

Todos passam neste ponto
Apenas uma parada
Dos raros que são poucos

Este ponto de partida
Que marca a chegada
Dos poucos que são raros.

A surra farta de palavras
Tão bem ditas e amoladas
Não bendita ao que se reservou

Um livro repleto de presságios
Não tão vários em seu futuro
A tatuagem do que passou

Letras de um destino solitário
Para pagar a língua
De um vão proferidor!

Manhã de um sol ainda a nascer. Quase cinco. Ele com seu livrinho de histórias infantis em francês. A rua quase deserta, se não fosse pelas raras pessoas que saiam para trabalhar como ele àquela hora. O ponto de ônibus vazio. A quietude da cidade devido ao horário, trazia pra perto de sua audição o cantar de pássaros misturado com o soprar do vento balançando os galhos das árvores na calçada que lembrava, ao menos de longe, o clima eterno de sua cidadezinha interiorana. Ele morava na capital há alguns anos. Já acostumado a todo o caos; toda a superficialidade das pessoas, a falta de amigos verdadeiros e principalmente do amor não fraterno. Amor este que sonhava desvairadamente anos atrás.

A cabeça vazia de qualquer pensamento que não o de chegar ao trabalho e dar início ao expediente que se estenderia até as onze horas. Correria para almoçar no mesmo boteco de sempre e tentaria voar para a faculdade; que por sinal estava para acabar e não via a hora que chegasse ao fim para fugir (ou ao menos tentar) de toda aquela podridão demasiadamente urbana. O sol custava a nascer. E a aparente manhã anoitecida causava-lhe um sono preguiçoso. O seu ônibus. Trinta e cinco minutos até o trabalho. Ele acenou com a mão. O veículo parou aparentemente vazio. Ele subiu e entrou totalmente desapercebido desferindo um bom dia cego, sem ao menos ver a cor do motorista. Passou pela catraca e sentou-se como se fosse o rei do ônibus: único passageiro. Seria único se não fosse pelo bom dia que ouviu após sentar. A voz madura e feminina surgia de trás. Ele olhou. Ela o olhou. Eles se olharam. Ela fez menção em sentar-se ao lado dele. Ele nem tinha percebido que havia se sentado num assento para dois. Ele se expressou afirmativamente com a cabeça. Ela se sentou ao lado dele. Já passava das cinco. O sol não havia nascido ainda. Tudo escuro. Ela olhou-o como quem analisa e percebeu em seu colo o livrinho francês de historinhas infantis.

- Este livro é antigo sabia?
- Não.
- Pois sim. Tenho um desse em minha estante da sala. Você estuda francês?
- Sim, estudo, sim. Ah... me desculpe. Bom dia para a senhora também.
- Não se incomode, filho. O corre-corre da cidade inibe cada vez mais nossa educação recíproca!
- Me desculpe...
- Tudo bem. Eu estudei francês faz tempo. Ainda me lembro de alguma coisa... Faz tempo que você estuda?
- Tem alguns meses, pego rápido.
- Na sua idade eu também pegava... Adoraria voltar a estudar francês.
- Nunca é tarde! Posso indicar a senhora a escola em que estudo.
- Você é um menino raro! Não vejo mais jovens assim como você hoje em dia.

Ele a olhou por alguns milésimos de segundo como se fosse uma eternidade o suficiente para entender que aquela senhora era tão rara quanto ele. O ônibus já havia feito metade do percurso para o trabalho dele. Eles já haviam conversado muito. Ele falado do pouco de sua vida. Ela falado de sua vida e muito mais. Ele havia contado de um tudo a respeito de seu pouco de vida. Contou inclusive que não tinha ninguém. "Pessoas raras merecem pessoas raras. E elas são tão difíceis de se encontrar... mas um dia se encontram... Faz dez anos apenas que me casei, esperei bastante, mas estou feliz como nunca estive" foi a última fala dela antes de se levantar e fazer sinal para descer: um pontos antecedente ao dele. Ele anotou rapidamente o nome da escola de francês e entregou a ela pedindo para que ela a procurasse. E o procurasse também para mais conversas agradáveis. O ônibus parou. Ela sorriu. Ele sorriu de olhos fechados. Ela desceu. Ele abriu os olhos e se levantou. O ônibus seguiu e ele fez sinal para descer.

O sol, enfim, nasceu de um parto espontaneamente natural e rápido. Uma luz radiante enfeitou o dia! O Ônibus parou. Ele desceu. Ele ainda sorria! Olhou para trás par tentar vê-la pela última vez. A rua completamente vazia e radiante do sol que acabara de nascer. Era ele, a rua e a sua sombra. De alma renovada, foi então que ele percebeu que estava só no ônibus. Ele havia acordado um ponto antes do seu.

A Dio

O chacoalhar daquele ônibus velho que servia de transporte urbano, fazia aquela garotinha deitada no colo do pai que viajava sentado chacoalhar mais que as vidraças. Meus olhos a observavam meticulosamente. Ela dormia e exprimia expressões de angústias em seu rosto. Seria o sonho? Seria o barulho das vidraças das janelas? Seria o ronco do motor? As pessoas viajavam silenciosas, não poderia ser barulho de gente. Ainda havia uns dois ou três assentos. Seria o mundo?

Tão pequena e ignorante de tudo o que a cerca. Ela dormia, ou tentava. Vez por outra levantava sua cabeça entreabrindo falsamente os olhos como quem vai acordar. Mas apagava bêbada de sono no ombro do pai. Meus olhos continuavam a acompanhar toda aquela dança. Eles se perguntavam o que poderia estar passando naquela mente tão pequena e virgem desse mundo. Ainda de olhos fechados como quem dorme, ela chorava, soluçava e rapidamente entrava numa quietude sonífera espetacular. Era um espetáculo teatral improvisado da vida. Meus olhos filosofavam em meio a tanta cena. Seria apenas um comportamento típico infantil? Dois anos? Três anos? Quantos anos teria?

O pai se levantava com uma calma contrastante ao balançar do ônibus. Compassadamente como quem dança, para não despertar a menina; que mudava de expressões bruscamente. Aparentemente adormecida e angelical, ela mexia a cabeça no ombro, chorava e voltava a dormir... sonhar?!? Já de pé fez sinal para descer e foi pela porta da frente. Para ser mais cômodo ao sono da menina. Meus olhos se perderam da cena. Mas minha retina retinha tudo o que se passou.

Ela sonhava com o que viria. Acerca do futuro. Sonhava com o mundo e chorava. E inquietava. Dois anos? Três anos? Quantos anos teria? Todo um mundo enfeitado de fantasias. Quantos anos até que tudo se tornasse realmente real? Quantos anos até descobrir que ao passar do tempo melhor não mais chorar e apenas sonhar?

Existe um rio sem fim. Há de se nadar por ele. De visão perpendicular pelo seu córrego, vê-se a direita e a esquerda de seu cursar. Eis a questão a qual lado nadar. E se joga água a dentro deixando a força corrente do rio guiar. Esta mesma força que guia, mostra os entraves que há em seu curso. Pensa-se ser mais fácil deixar a correnteza conduzir todo o caminho e descobrir se em algum ponto chegará o seu fim. Para cada qual o seu rio. E para cada qual seu percurso. Assim como para cada qual a escolha de se nadar a favor ou contra a correnteza. Resta saber o porque de tanta gente e tanto rio. E se apenas este que aqui na frente passa se tem de nadar sozinho. Nadar contra a correnteza se faz necessário, pois talvez o fim deste rio se encontre lá. Mas pode cansar. E se faz necessário boiar para que a correnteza leve... para o fim ou para o começo?

Ela sabia que estava sempre sozinha. Sabia também que ela era eu. Ela sempre saia de tudo. Inclusive de si mesma. Ou sempre soube... não se sabe. O que se sabe ao certo é que tudo se tem a primeira vez. E seria essa, a primeira vez em que ela desbriria sobre algo que nunca houve. Mas passou a acontecer dentro dessa sempre solidão e dessa certeza absoluta das coisas.

Era a observar os passáros ao entardecer na praça, que ela namorava toda a sua solidão. Assistindo aos alados a fugirem do resto de sol, ela mantinha o absolutismo de sua vida. Mantinha pragmticamente impecável com seu conhecimento holístico. Nascia alí a primeira iconsciencia de algo.

Olhando os pombos ao entardecer; as pessoas à penumbra estrelada. E descobriu que ela assumia a cada amanhecer outra identidade. Sempre da que menos se identificasse e adivinhasse que fosse tudo num espaço de tempo imperceptível: entre o o passar de um neurônio com a informação em seu cérebro de um extremo a outro. Então todo o absolutismo dela se desmorona...

Até ela perceber que já fora todos e inclusive eu. Todo o absolutismo se recompõe. Agora ela pode e vai ser o que quiser: esta caneta, este papel... eu... você... eu! Ela! E todo o absolutismo de conhecimento holístico retorna ao lugar de sempre.

"Ela lembrou-se que era sozinha... ela lembrou-se que ela sou eu".


[citação e inspiração de Talita Moraes http://texto-me.zip.net/ - postagem de 08/08/2007:12h14]

Está sendo só música. Onde se pisa saem notas harmoniosas. De um vazio sem explicação. Ondas e ondas sonoras passeando pelos recantos d'alma e ecoando em algo intrissecamente guardado. Está sendo só música. A 23ª nota de muitas outras mais. O corpo é música. A alma é música. O coração é música. O ar, o vento, a chuva, o sol e a lua são músicas nessa vida... e somente música. E sentado na cadeira dessa vida que se vai passando as páginas da pasta. E vai se lendo música por muito e muito tempo. E será só música... ainda que sem os ouvidos.


Aos meus 23 anos.

Aviso a todos os meus sentimentos e sentido, que a partir de então toda a forma de construção textual estrofada entrará em férias forçadas; sem data para retorno. Até que se consiga compor uma construção textuall prosaica. Vale ressaltar que o que entra em férias é a forma de construção textual estrofada e não a poesia ou o ato literário. Porque "a forma de escrever é passageira, mas a poesia é permanente".

Minhas duas rosas pequeninas
Plantadas desde cedo
Logo tarde desabrocharam

Uma luz intensa
E a sentença desigual
Onde tudo está realmente alojado

Pés de manhã
Que pisam o chão frio da madrugada
Cabeça de noite
Que vagueia toda tarde pela estrada

Minhas duas rosas pequeninas
São pés e botões
Raízes de meu viver

Um vento intenso
Despedaçado desse quase outono
Onde tudo cai junto às folhas.

Não adianta você dizer para eles
Que o que se quer já foi querido
E o que se sente não está escrito

Não adianta você mostrar que tudo se herda
Que o que se é já se foi um dia
E o que virá não está de tão longe alcance

Mas o que se sente não está escrito
Muito menos descrito que não se pode mudar
O jeito de ser seu fugia a tudo e todo sentido
As linhas estão prontas em pautas-ladrilho
Os passos são deles em que pedra pisar

Não adianta você no ouvido deles gritar
Que o que eles sentem faz sentido
E adimita que nem você sabia disso

Não adianta, não adianta nada disso
Deixe eles dizerem, gritarem, mostrarem
E o sentido você mostra no fim adiante.

A Rômulo Bartolozzi

Hei, alienígena
Sei que você não é daqui
Que seu mundo está para lá de você
Que você nem assiste TV
Mas respira esse ar que todos respiram

Olha, alienígena
Não pense mais em voltar de onde veio
Te trouxeram para cá não sei como
Apenas sei que estamos no mesmo meio

Vista todas essas roupas
Ande como quer que ande
Se adapte a todo esse mangue
Só não coma da mesma lama que eles
Lembre que nós não somos daqui
Mas aqui vivemos com eles
E como eles não mostre de nossos poderes
Transformaremos esta vitrine no nosso habitat

Hei, alienígena
Já falamos até a mesma língua
Mas não se assuste em seus passos sempre sós
Pois lá em cima sempre andamos assim
De braços abertos calculando nosso espaço

Olha, alienígena
De tanto respirarmos esse ar
Nascerão pulmões até podermos bem alto gritar
E então saberemos de onde estamos, nossos nomes

A Dio

Eu vejo um retrato
Caído da parede de colagens
E folhas naquele vácuo pictórico
Caindo vagarozamente congeladas

Onde está o vento
Que derrubou o retrato
Onde está o vento
Que derrubará as folhas?

Vou tatuar em minhas costas, bem nas asas, os ventos que você me trouxe. É realmente para não vê-los. Apenas para sentir seus ventos quando sua ausência se fizer. Então irei materializar cada pedaço abstrato seu em minha mente e meu coração sentirá a ilusão da sua presença. E feliz pela tristeza da distância que nos separa em corpos no momento em saber que as matérias fundirão. E sairá vento de nossas asas, ar quente de nossas narinas da saudade que quase vira banzo. Um furacão fixará minha alma na sua e os ventos cessarão... tatuados em minhas costas e materializados na minha mente e no meu coração... até que um dia, o mundo será vácuo. Então seremos o vento do mundo.

Cai gotinhas de chuva
Ele está do outro lado
Do outro lado da ponte
Descoberta de tudo

Cai gotinhas de chuva
Ele está de cabelos úmidos
Querendo passar para o outro lado
Do outro lado da ponte

Cai gotinhas de chuva
Ele está do outro lado
Do final da tempestade
Que passa, mas cai...

Cai gotinhas de chuva
Ele está do outro lado
Vendo o fim da tempestade
E ver se pode passar...

Abra as asas
Mostre esse peito dilacerado
Arranque as cicatrizes
E teça asas para voar

Feche os olhos
Olhe bem essa alma completa
Junte todos os laços
E teça asas para voar

Os passos são passos que passam
Estradas são penhascos
Plataformas sempre prontas
Para esse corpo levantar vôo

E voôu abertamente
Asas, peito e braços
A cima de todo o horizonte
Karmaticamente abraçou o mundo

Sem penas, sem cortes, sem queda
Sem dores, sem mágoas, sem marcas
Só sonhos, só nuvens, só destino
Somente só, somente amor, somente asas...

O caderno não pára
Ele fecha
E as páginas
Continuam em branco
A esfera
Da caneta
Do risco
Desenhando letras
No vento
As páginas virando
Sem vontade
E as idéias fluindo
Os sentimentos
Adiantando
As últimas páginas
E o desejo
Fluindo e escrevendo
Se escondendo
Na página
Na linha
Nas últimas.

Ponto, pronto...
Reticências são três pontos
Até que ponto?
Este fim etílico
Harmônico
Solitário
Karmático
Ponto, pronto...
Reticências de um fim
Enfim
O tempo passa
Desgasta
E o ponto
Para dar fim
Ponto.
Pronto.

Quando você não está
Está o seu ar
Que me lembra seu cheiro

Em todas ondas do mar
Reflete seu rosto
Na areia meu leito

Não consigo entender
Todo esse eco que grita sozinho
Ando nas nuvens pensando em você
Em qual parte se encontra nosso caminho

Meus suspensórios me puxam para trás
Meu peito pede seu encontro
Seu peito não ouço nada mais
Só ouço meus gritos surdos no escuro

Às vezes ela se pega deitada e repleta de sensações. Uma montanha-russa. E olhando fixamente paro o breu do teto de luz apagada. Apenas o som de sua respiração abafado pelo som do ventilador de 40cm que sempre a ninou. Sem ele ela não dorme bem. E ela se pergunta quem está acima de todos os trilhos. Quem fica parado naquele limiar de onde o carro emborca e cai bruscamente. E se esquece de tudo: sentimentos, emoções, vida... e depois sobe aos poucos... às vezes fica de cabeça pra baixo. Quem está abaixo de tudo?

E com a mesma simplicidade da escuridão de seu quarto, ela descobre as respostas: Ela! Está acima e abaixo de tudo. E fica acima e abaixo; e no limiar, por que não? A vida não é um carrossel. É uma montanha-russa. Então ela descobriu mais: anormal são os outros que dizem que há linearidade e estabilidade sentimental. Não hám da vida, diga lá de sentimenos. Ela jogou um lençol dobrado na cara e se cobriu com outro. Vestida com seu pijama azul, dormiu.

Rios desses risos que sorriem
Não sei de onde...
Onde se escondem?
Quando conto um a um
Até o último número...
Onde te escondes?

Meus olhos querem apreciar
Cada linha desses lábios
Cada traço destes passos
Que te fazem correr...
De quê?

Fecho os olhos e vejo logo
Só seus olhos que não buscam os meus
Até quando...
Acordarei tendo a certza
Que meus ares são teus?
Até quando...

E onde
Poderei escrever teu nome
Para sempre bem ao lado do meu
Em letras tortas...
E pronto
Tudo torto, mas bem certo
Que a vida é torta, nada é perfeito
Nem nós!

Alice sonhava que não sonhava. Tinha seus quinze anos vividos intensamente como quem viveu até os trinta e cinco. Até o que menos se possa imaginar. Mas sem o ato carnal das experiências. Sua vida se construiu ao lado de um pai viúvo com ideologia hippie e uma sapiência intelectualóide assustadora. Explica-se em Sr. Arnaldo toda a influência literária, musical, cultural, artística... em especial a pré-maturidade e o desejo de observar tudo.

Desde pequena, ainda quando Sr. Arnaldo era casado com D. Maristela, Alice mais via que ouvia seus pais sentados no chão da sala de poucos móveis a ouvir de Chico Buarque a Led Zepplin e Beatles. Via seus pais a ler de Chico Xavier a Sartre e Tolkien e depois correlacionar e interligar o coquetel literário. Assistir a teatro, shows... e foi num balet do grupo Primeiro Ato que Alice, em seus seis anos, despertou um desejo orgásmico em seu comportamento detalhadamente espectador. Aos sete, um ano depois de assistir a um balet teatral sobre Nelson Rodrigues, Alice congelou o seu voyeurismo.

Num barracão cultural próximo ao apartamento uma briga entre duas lésbicas que nunca freqüentaram o local, Alice viu uma garrafa de cerveja ser atirada ao léu bater numa pilastra se espatifando e um grande caco rasgar a jugular de D. Maristela, enquanto conversava sobre a vida com Sr. Arnaldo.

A primeira vez que Alice fechou os olhos para o sangue que jorrou em sua face dócil não o ruborizar a imagem do pescoço de sua mãe degolada.

Três meses depois, ela abre os lhos para o mundo e passa a senti-lo com a visão. Nunca..., nunca..., nunca trepou, nunca se drogou, nunca beijou ... mas viveu e sentiu todas essas experiências com os olhos. Sentada enquanto os outros faziam tudo. E o prazer orgásmico a preenchia completamente. E assim fora toda a sua vida. A única coisa que não via eram espelhos. O reflexo era irreal.

Aos 75 anos, passeando na praia, sozinha, despercebida, olhando para seus passos na areia, uma poça d’água revelou que o tempo passou e que ela nada fez. Mas viu. E isso não é vida para se ter. Alice morreu no dia seguinte ao ver seu reflexo na praia. Morreu dormindo, abraçada num espelho em cima de sua cama do quarto de vida.

[Inspirado em Talita]

Chão de pedra, sol a pino
Mais uma batalha dantesca
Perdura nesse cotidiano
Não se pode ir contra o sistema
Quimera parece ser o destino
Remando contra a correnteza
O pobre arcano desse jogo já cortado
Em cartas lumes flutuantes
Nem tão certeiro, nem tão errante
Dia-a-dia que ao fim do dia é outro dia.
Só vale a linha a viver neste teorema
Que quem luta luta e quem dorme não se atenta
O quão a vida se desmancha pitoresca
Há de viver desse ir e vir com certeza
Só se vive em círculo como o pobre arcano

Plataforma de pousos visuais
Os meus tão norteados
Aterrissados em teus lábios estendidos
E seu cheiro,
Bússola de meu olfato
Mesmo que ainda intrafegável
Navega livremente em minhas vias
E minha mente
Mente pra si mesma da força
Que me desaba de forma inesperada
Inebriante, molda meu eu
A ser um porto pra você repousar.

São passos, são horas, caminhos
Contados, pisados caminhos
As curvas viradas a olhos cegos
Ladeiras descidas que subirão

É um mar de leite
E a cereja mergulhada
Em todo vasto oceano alvo
E minha sede por cerejas
E só uma em todo mar

São planaltos, horizontes, passos
Primeiros, em falso, temores passos
Destino inesperado da cidade sem mapa
Elevadores manuais na densidade láctea

É um mar de leite
E a cereja mergulhada (à espera)
Em cada braçada: a correnteza
E minha certeza incerta de degustá-la
E sentir para sempre seus efeitos em mim.

Eu preciso de um primeiro passo
Ainda que esse passo
Pise o chão depois do meu

Um eco no escuro febril
Que me queima vagarosamente
Longe de tidas as palavras mudas que grito

Eu preciso de mãos acolhedoras em minhas costas
Não tão largas que não se consiga envolve-las
Sem que meus braços os puxem aos meus

Um horizonte nebuloso de inverno
Que embassa de brumas a visão
Da semente eclodida sem ver a luz

Eu preciso que pare de me ouvir
E diga que me ouve pelos olhos
Sussurrando os passos que precisam ser dados.

Rojões neste céu
Apreciem o horizonte celestial
E gritem, berrem bem alto
Mais alto que nas outras festas
Espantem todos os males
Ressequem todos os maus espíritos
E umedeça todos os corações
Com essa chuva de despedida
Gritem, berrem o mais alto que puderem
E continuem celebrando a divindade
A pureza omissa do mundo
E no mundo resseque todos os impuros
Mas umedeça todos os corações
E todas as almas que ouvem os gritos
Afastando do mundo todos os maus espíritos
Que perto de mim já não os quero mais!

Não existem perdedores. Mas eu sou um nato. E ninguém gosta de perdedores. Mas sempre há uma excessão para tudo. E é ele. Se entra em relacionamento e o destrata, mal cuida dele. E lá no fim de tudo... desanimado,mal olhado... dias, meses, talvez anos sem procurá-lo, ele terá seu cheiro guardado. Ainda que fétido.

Meu silênciio é a inocente
Vontade de sentir o diferente
Sem parar para pensar
Em pormenores barreiras

Quero me afogar nesses olhos
E nadar em todos os lábios
Ainda nos que não existem
Saltar do topo do mais alto pensamento

E chegar lá no foço de tudo
E perceber tudo o que se passou
E não sentir dor ao olhar para cima
E chorar para viver tudo de novo

De novo não encontro o caminho
A que um dia venham me encontrar
Para ser rasgado e dissecado
Até que encontrem meu âmago amarrado

Todos perceberão o nó cego da vida
E se é curta ou longa, não sei
Sei que pulei e de cabeça em tudo
Pois a vida é pra ser vivida... e morrida!

(Para o outro)
Tire suas flores de mim
Eu não quero esse velório agora
Guarde tudo que for abstrato
Corra logo, pois a hora passa

Pegue meu relento neste ar rarefeito
E condense todas essas complexidades
Não deixe que meus passos se percam
Corra logo, pois a hora passa

(Para si)
Não tenha pressa, a hora passa
Mas a vida é longa nesse caminho curto
São sete dias na semana, trinta num mês
E ainda assim eu conto segundo a segundo
Para ver mais um abraço mais concreto ao menos

(Para o outro)
Jogue todas as pétalas no chão
Concretizando uma estrada que nos dê passagem
O caminho é muito curto, mas as horas são longas
E eu não vejo a hora de segurar a sua mão.

Eles estavam sentados na cama. De frente para o espelho. E se olhavam face a face. Perfil a perfil. E relutaram durante horas a proferia a primeira vogal que definiria todo um destino começado a pino, hierbolicamente séculos atrás. O olho no olho foi decisivo. Fitaram-se por cinco segundos exatos. E o primeiro "A" saiu de sua boca:

- Não te quero mais...
- Não posso dizer o mesmo!

Respondeu incisivamente a outra parte mais marcante de toda a história. Eles continuavam frente a frente. Vez por outra a linearidade das faces se encontravam, mas nunca os olhos. O alfabeto poderia ter sido inteiramente pronunciado, em todas as línguas. No entanto, a frase decisiva expressada pela parte mais fraca e, de forma tão natural, ressequiu todo um roteiro ensaiado pela parte mais forte. Os olhos não se encontrariam mais. Não diretamente, não retina a retina como sempre houvera e, pela úiltima vez, se despediram.

E o espelho intácto. O mesmo que registrou todas as obscenidades e todas as juras e despromessas. Ele que sempre refletiu aquela cama, horas vazia, horas solitária. Horas amante, horas tratante de uma amor teórico há séculos.

O celular estava na comoda ao lado carregando. Os dois estavam lado a lado refletidos no espelho. Os olhos perdidos pelos metros quadrado limitados do quarto.

Era madrugada. Na região fazia frio. Um único coração relutante aos dois batia de forma compassada esfriando as duas fortes personalidades. Alí. Em frente ao espelho. Era ele o culpado. O espelho. Que ditou toda uma vida. Todo um mandamento de teorias que se perderam com aquelas palavras. Com a cara dele frente ao espelho vendo seu reflexo pelo olhar tangente.

Não mais haveria duas personalidades. Não mais haveria teoria alguma. Só haveriam as experiências; e a certeza do que viveu. Não mais haveria o reflexo do que se foi. Seria apenas a personalidade sui generis. A essência. A pureza.

Segurando o celular que carregava. Arrancou com toda força aquele ínfimo peso. Atirou prazerosamente no espelho. E gozou de alma ao ver os estilhaços. Hora de uma vida sem reflexos. As prateleiras estvam todas arrumadas. Apenas uma personalidade. Sem espelho. Sem o olho no olho daquele reflexo maldito. Hora de seguir um novo começo. Sem seu reflexo. Com uma sombra a busa de outra.

Tantas vezes vi na rua
As estradas que segui
Rumo a todas as curvas
Que me traziam aqui

Tantas vezes qual barco
Preso em correntes vividas
Por vezes me atrasando o passo
Tornando vidas sofridas

Tantas vezes fechei os olhos
Por uma não mais os abri
Pus os pés adiante na vida
Largada as correntes sem me seguir

Tantas vezes a vida passa
E agora ela se passou
Num suspiro em baixo d'água
Do oceano que agora secou

Tantas vezes abri os olhos
Agora os fecho de vez
Deixo toda a dor causada
E as correntes oxidadas

A meu avô morto.

Poesia inspirada do micro-conto "Rua da Frente"

Ei, olhe bem
Você não me conhece
Não sabe a meu respeito
Só sabe do meu rosto
E dessas linhas que me desenham
E me trazem a este ponto onde estamos

Olha, escuta aqui
Eu já te conheço
Mas não sei a seu respeito
Só sei o que você quer aqui
E o que quer saber de mim
E o que vou fazer contigo

São todos esses pontos
Demarcados neste habitat noturno
Cada um na sua dimensão

São todas essas sombras
Que me trazem noite a noite
A este lado do mundo que não é meu

Enquanto eu giro e giro
Voltando só e sempre pro mesmo lugar
E você gira e gira
Até que se encontre comigo
Podendo ficar ou ir
Sei que você vai voltar

Ei, preste atenção
Você nem sabe o meu nome (ainda)
Muito menos minha idade (ainda)
Mas eu já sei a placa do seu carro
E posso até deduzir a quilometragem
E você nunca vai saber nada de mim

Olha, só mais uma coisa
Eu nunca vou te contar minha história
Mas irá saber todas as minhas medidas
É só saber (a) preço que tenho
E vamos logo que a noite é mais criança que eu
E ambos temos nossas vidas a retomar depois.

Você não me conhece. Não sabe da minha história. Só sabe da minha face, das minhas linhas. Da minha miséria. São nessas voltas que encontro a esperança de estar a frio e ao relento pela causa que me trai todos os dias, me fazendo fiel à noite. Fiel a vocês, enquanto o tempo permitir. A minha causa pode ser qualquer uma. Pode ser a sua, a sua, a minha ou nenhuma. Mas façam o que quiser desde que o papel escreva o que tenho que viver amanhã até esta mesma hora a espera de vocês ou de outros. Sim, eu faço tudo, só não me apaixono.

Hoje caminhando rotineiramente pelas ruas dessa cidade tão climaticamente harmoniosa percebi que tenho sombra. E paradoxalmente é nela onde descubro que não sou só e onde se deposita toda a minha solitária individualidade. Era dia enquanto meus passos rápidos me guiavam à labuta. A sombra era intensa e me acompanhava copiosamente. Essas palavras são noturnas e ainda sim a luz artifical da urbanidade moderna me traz naturalmente essa companheira fiel. É aí que me faço perguntas que me trazem automaticamente respostas: e se não houver nenhuma luz? A luz se encarrega de uma ínfima sombra, ela sempre vai estar lá! E se não houver lua? A lua-nova nunca emite luz! Ela estará mais perto do que nunca, do lugar de onde sempre ela sai e de onde ao menos, por uma semana nos momentos obscuros ela retorna: a sombra estará dentro de mim.

Se a minha luz se acendesse
Ascenderiam todas as coisas
E os campos dinamitados desta terra
SE afogariam em meu acender

Duas coisas muito diferentes nesses dedos
Não teriam força ao que difere
Tudo muito parecido nesta festa
Só o vácuo e as luzes neste toque de Miguel

Nada se converte no caderno
Nem o velho, nem o novo, nem o que vai nascer
Meu últero derradeiro desritimado
Em dois passos ida e volta até acabar a página.

A vida
Não está
Nas páginas
De um jogo

A vida
Sempre está
Nas páginas
De um livro

Você mesmo escreve
As linhas dessa paisagem
Eu mesmo não sei
O andar dessa carruagem

Que me leva
Para fora
De tudo

Que é cartesiano
Passo a passo
Não combina

Eu mesmo caminho torto
De olhos bem fechados
Você que me faça abri-los
Quando chegar ao cais do porto.

Meu peito é um velho viajado
Que nunca saiu de seu metro quadrado

Minha velha alma
É um jovem sedento de vida

Meu corpo é um redento de paradoxos
Pronto para pular d'um precipício

E voar...
Até que as penas desabem
E construam meu novo castelo

Meu reino
Será de flores amarelas
Que seguem a luz da realeza

Minhas mãos são enrugadas de dedos
Que sempre tocaram todas as coisas

Meus pés de asas cortadas
Para pousar todos os sonhos no chão

Minha cabeça é uma ilha deserta
Onde posso estar sempre só

E viver...
A vida tem 360º
Onde os ponteiros um dia param

Meu relógio
Marca passo a passo dessa trilha
Que um dia cessará a viagem.

Hoje não amanheci ainda. Acabei de receber uma carta. Era um lembrete da ingrata de que o tempo está passando, mas ela ainda aguarda minha visita. Ela realmente não me visitará até que eu a procure.

Poesia escrita há uns meses e achada perdida por algum pc do trabalho!


Em todo esse emaranhado
Você se diz sábio e a salvo
Caminhe em minha direção
Tente tocar o meu rosto

É quando você estica a mão
E o joelho se dobra adorador
De toda essa prisão de alma
De corpo atado ao que se sente livre

Abra seus dedos e estenda a palma
Apedreje com um tapa
Acaricie com um beijo letal
Arranque todo esse laço envolvente

Tente tocar o meu rosto
Caminhe em minha direção
Você se diz a salvo e sábio
Em todo esse emaranhado.

Laços e desatos de vivência
Em que a direção caminha
Duos de necessidade particular
Que permeia e anseia outrém
A um, ao redor do não si

Tempestade peitoral de flagelo
Coro desperdiçado em sina
Três vezes mais o que se é
Onda arrudeia o permar
O par, o um, o querer ser.

Aqui nesta Terra é festa de cego. Só entra quem é da família. Cantando em braile!

Aqui nesta terra
Se está em festa
E a festa é de cegos
Só entra da família

Não se desaponte
Nem se desvie
Porque isso tudo
Você já ouviu falar

Toda tempestade
É solitária gota a gota
Onde a chuva se úne
No mesmo fio de água

Aqui nesta correnteza
É só caminho
E descaminho sem futuro
Não há p'ronde ir ou ficar

Porque na verdade
É uma festa sem convites
Onde quem quer entra
Basta fechar os olhos e cegar.

Quem é que fala deste lado do éter?
Aqui só se ouve o prescindível
Só se escreve o supérfluo
Só se lé o vulnerável

Qual dessas cartas vão rugir?
Até gritar na minha cara
Que nada corre contra o vento
Mas sempre tem como desviar

Quando os instrumentos vão parar?
É hora de colocar o anel corretamente
E ir à caça de todas as presas, cautelosamente
Porque o clima não favorece sempre

Queimar todos os papéis e não deixar registro?
A letra é imortal, nada destrói, nada apaga
Nem quado o vento assopra a areia
Pois elas sempre estarão na mente.

A madrugada me chamou. E ao chegar bem perto dela uma grade nos separou. Chovia. Apenas um lâmpada iluminava. Eu via alguns pingos de chuva. Uma pequena mariposa passou voando da escuridão em busca da luz. Da luz, fugia na escuridão um velho a meu lado. Dormia. Tão profundamente que foi incapaz de sentir minha presença e ouvir o bater de asas desesperador da mariposa. Ela lutava contra os tiros d'água rumo à lâmpada. O velho fugia temporariamente dos tiros da vida naqueles sonhos. Se é que ele sonhava... A mariposa morrerá em algumas horas; ou minutos, ou segundos. O dia é curto para a pobre mariposa que na madrugada busca a luz para refugiar sua ampulheta. Para o velho o dia é longo. E logo logo o dia amanhece. E por mais que faça sol, a chuva não vai parar. A mariposa voava até a lâmpada sem perceber minha presença. Eu saí de perto do velho sem que ele percebesse que eu estivera alí. Deixei apenas uma pegada.

Hoje vai ser difícil segurar o sono. E amanhã será difícil dormir. Porque ontem eu olhei para mim e vi que eu tenho apenas um umbigo. E que dele sai um cordão que se encontra ligado em minhas costas. Bem na medula. Dá até pra brincar de pula-corda.

Tudo o que é posse
Tudo o que é poça
A lama do pote
A voz que me ouça

Todo o tamanho
Todo o caminho
A força que ganho
O dedo no espinho

A mão que balança
A outra abre o olho
Tudo que avança
Tudo é joio no trigo que colho

Sempre que a gente
Se perde no passo
Há sempre um espaço
E outro pé a frente

Nunca se valha
Do tempo que corre
A estrada que morre
Por não ter escolha

Conte as pegadas
Que ficarama para trás
A escolha é voraz
Mas sevê as estradas.

Ele caminhava copiosamente em passos largos e demasiadamente firme. Sempre em frente. Como quem não tem direção. Alguns quilômetros o aproximavam do mar. E aquela rua reta que parecia não ter fim, sempre em frente. E ele a seguir o destino da rua. Passava cegamente por pessoas e animais pela rua, que olhavam assustadoramente para ele. Primeiro por suas feições cizudas; segundo por parecer que ele não percebia as pessoas na rua. Os animais instintivamente se desviavam de seu corpo veloz, mas algumas pessoas não tinham tanta destreza animalesca. Quanto mais se aproximava da praia, mais rápido seu corpo cortava o vento, cegamente; de olhos bem abertos a olhar o que sabia que lhe aguardava.

Chegou a pisar em dejetos de animais, ou de pessoas; eram dejetos. Hoje em dia é dificil, muitas vezes, separar os animais da humanidade. E era isso que o fazia andar sempre em frente. Pois essa rua foi o único caminho que ele encontrou para se salvar de tudo. O caminho do mar. Uma corrida contra o tempo. E cada vez mais rápido, seu corpo esquentava com a circulação que aumentava. Os olhos já avistavam a praia e o corpo a cortar o vento. O remédio já fazia efeito a distancia até a areia era pouca e o tempo menor ainda. Ao pisar na areia algumas pessoas observaram que sua velocidade diminuía e seu caminhar era cada vez mais trôpego.

Já pisava a areia úmida quando o corpo caiu na areia. Morto. O remédio na dose certa; no tempo certo; na distância certa. O que as pessoas não entendiam era como que, mesmo com o corpo imóvel no chão, sem vida, a vértebra continuava a cortar o vento velozmente por cima das ondas. Já em alto mar, buscando o infinito...

Hoje amanheci com as tristes chamas inocentes do desejo. Desde quando desejo é inocente, não faço a mínima idéia! Vai saber? Sei apenas que hoje não vou dormir. Como o desejo. Ele cochila, mas não dorme nunca.

Hoje amanheci com as faces em carne viva, dos efeitos causados pela cidade! Mas o Arvo Pärt assoprou em várias notas e vozes todas as chagas durante a madrugada em claro... Acho que dormirei em paz.

Hoje, antes de me deitar, ouvi um pedido brando proferido de forma mais branda ainda. Ela me pedia para que quando morresse fosse esquecida para sempre. Não queria visitas ao túmulo, muito menos pensamentos inoportunos visitando. Eu nunca neguei nada a ela. Não sei ao certo como amanhecerei amanhã...

Hoje levantei e passei pela rua em frente a uma escola fumando. Uma criança me pediu um cigarro e eu disse:"vai crescer primeiro". Ao passar por ela fumando, levei uma facada nas costas. As crianças de hoje andam bastante crescidas!

Hoje vi que o mundo mudou. Na verdade, ouvi que ele tinha mudado. Pois passaros cantavam na madrugada. E estava longe do raiar do dia.

Os dias são sempre dolorosos. É com o dia que se perde, se dispersa, se come, se envenena. São os dias que levam ao descontente desconhecimento. São eles que colocam de forma imposta a presença de seres que levam ao descaminho. As tarde são sempre convalescentes. Nelas os pensamentos se recolhem e vêm toda a desordem do dia. Toda a tempestade diante do sol passa a esfriar. E então chega a noite. É nela onde o conhecimento é extremo, pois a solidão é extrema. A companhia consigo mesmo traz o conhecimento e o autodomino. A falta da luz do dia faz com que seja vista a luz interior. Se absorve todo o repente do tempo ensolarado. Misturado com o ar frio da noite uma química produz orvalho. É a semente que está para crescer. Na noite é que se deve plantar, porque o sol está por vir e a madrugada é curta.

Hoje amanheci com uma coruja ao meu lado. Quando abri meu olho era uma gaivota mandando eu dormir de novo. E sonhar...

Engraçado como o velho Mané, após um diagnóstico ele esperava sempre pela visita da ingrata. Sentou por muito tempo perdido entre seus momentos de devaneios e lucidez. Dormia cada dia como se fosse o último aconchego ao travesseiro. Esperava eternamente a chegada do seu bilhete de partida para um mundo que ele próprio inventou. E de tanta espera, ela nunca veio visitá-lo. Não como ele esperava. O encontro foi acasual.

Eu tenho essa visita agendada. Meu bilhete para Pasárgada está nas mãos dela. Resta apenas uma notícia, um diagnóstico, para o encontro triunfal. É certo que esta visita está marcada e não é ela que vem me visitar. Eu que devo visitá-la. E muito em breve. O que não sei é se realmente irei cumprir o compromisso e pegar a passagem.

Suas palavras não me oprimem. Já essa intensa interiorização leviana leva meu âmago a paixões eternas. E sempre que preciso são retiradas categoricamente de prateleiras; de extrema organização cronológica e espaço reservado para arquivo-morto. E nenhum arquivo cristão. Mas há sempre algo que me toma de ansiedade quando revisitado por fantasmas pretéritos. Meu perispírito é uma casa mal assombrada.

Não me pergunto mais o porquê dessa opressão pulsar o meu sangue. Pois ela está no sangue, no corpo e na alma. Não há reflexos que expliquem de onde nada vem. E ao mesmo tempo é uma paz descer esses degraus e atingir todos os pavimentos dessa estante inexplorada por mim e tão permissiva ao toque de qualquer um que nunca vem.

A minha respiração são notas musicais em labaredas de tons graves e frios. É espada de sopro que invade perfuradora de todas essas remanescências fichadas. Meus membros aracnídeos mantêm pés no presente, no passado e principalmente no futuro; o qual nada se é galgado a longo prazo.

Alguém costumava dizer que era hora de Outrém acordar para a vida e deixar de ser criança. Os dois tinham nascido no mesmo dia; cada um de uma barriga diferente, realidades diferentes. Com todas essas diferenças, cresceram juntos. Alguém era quase igual a Outrém. Porém a vida deste segundo fazia com que seu escape fosse o mais arriscado de todos: aprender a viver arriscando de tudo. Para Alguém, Outrém cometia tantas loucuras para tal desbravamento da vida, que dizia que ele julgava-se Deus. Mal sabia Alguém, que Outrém encontrara-se com ele tantas vezes, que mais uma, seja da forma que fosse, seria apenas mais uma visita. E breve. Mas alguém não podia falar de Outrém como se soubesse tudo como Deus. Seria Outrém que brincava de ser Deus ou Alguém mais gostaria de brincar também?

A Rodrigo Garcia.

Hoje amanheci com a natureza e ela amanheceu com raiva de mim. O sol brilhava mais que o normal e todas as árvores da rua me davam cascudo.

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta". Guimarães Rosa


Essa é a vida que corre
É o tempo que freia a perna
A ponte que liga os mundos
Rio que corta tudo
Que anda sobre a luz
Faz tudo de repente
Dia após dia
A vida
Que corre
Corre
O mundo
Passo a passo
Faz tudo ficar para trás
Que nunca se apaga da vida
Tempos que definem passado, presente e futuro
O caminho das coisas que se tem de seguir
É o lápis que sempre procura o papel
E esse é o verso que tudo pára!


A Guimarães Rosa.

Sabe quando se pisa pela primeira vez naquele ladrilho recém colocado? É, eu também não sei. Mas deve ser como a primeira grande raíz que se fixa no solo. O primeiro mergulho de mar quando a onda bate ferozmente e atravessa todo o corpo... fica parte de você em todo aquele vasto oceano salgado. E de certo modo adoça a alma com pó de imã. Lá fica o pó negativo e em você o positivo: um chamando pelo outro... atravessando todas as linhas de tempo, clima, sol e lua. É fogo e é água. Até que em algum compasso da música tudo se reúne unindo os dois pós de pólos separados. E quando se junta torna-se outro estado de matéria. Neutraliza-se. Foi assim que me senti. A primeira vez que abri os olhos. Depois de eras de espera necessária e decisiva. Vi o mundo de todos os lados; de uma só luz. E sem sair do lugar.


A Fábio Viana.

[Sem Título]

A menina balança a mão
E enquanto isso
O mundo dança

Dança o mundo ao reger da menina
O compasso do universo
Uma verdadeira música

Enquanto anda
Balança a mão a doce menina
E não sabe ela

Que quando não mais menina
Não mais balança a mão
Apenas, como o mundo, dança.

Chá Das Cinco Com Dalí


Sabe aquele dia
Bem no fim da tarde
Lá no passo fundo
Do meu coração

Eu olhei pro céu
Vi estrelas ao dia
Não era alucinação
Eram os meus pés no chão

Lembra do encosto duro
Da minha cadeira
Onde sempre sento para escrever
E sai os rabiscos da minha mão

Liguei o ventilador
E mirei-o ao teto
As areias dos sonhos
Voaram por meus cabelos

Façamos aquele chá de leite
Que se toma com semente de girassol
Embaixo da luz da lua
Em cima de uma serra imaginária qualquer

Respire fundo todo esse suspiro
E espirre o sonho em bambolê
Na saúde de querubim caído
Que o inverno já chegou!

Ponto Final


O ponto da frase quando molha
É semente e vira girassol
Segue todo raio de chuva
Da lágrima que não pode exprimir

O ponto da frase quando borra
É virgula e dá continuidade
Segue todo o compasso de verso
E reverso do que não se sabe

O ponto da frase quando aponta
É ponto de fim de frase
Encerrando de açoite toda uma idéia
Que não mais será frase.

O Ofício Do Crepúsculo

Pastava a cabra na relva do céu
Aparava as nuvens em formatos
Enquanto adormecia a realeza

Várias sementes vegtais adormecidas
Crescendo em vida da fertilidade
Campos e campos de todas as flores

Quando de ímpeto natural
Brotou o girassol radiante
Com seus espetos solares

Espetando todos os brotos
Da longa jornada noturna
Onde não se sabe o que se cresce

Espetou a realeza de seu sono profundo
Lembrando assim de todo o seu reinado
A fecundar os feridos desabrochados

Isto Está Acima de Tudo

É uma serra muito alta
E tudo está acima de tudo
É lá que se sente o aroma de café
E ainda sim está acima de tudo

É um campo de girassóis lá no alto
É um vento frio que acaricia o cabelo
É um sol quente que aquece o pé e o topo
E tudo está acima disto tudo.

[a dio]

A Ladeira da Misericórdia

A menina desce a ladeira
Desce a ladeira todo dia
Todo o dia a tarde, a menina
A menina no fim da tarde

No fim da tarde conta ladrilhos
Conta ladrilhos pela ladeira
Pela ladeira do começo ao fim
Chega ao fim da ladeira a menina.

Ladeira comprida
Ângulo incliniado
Desce a menina
Sem rebolado

Menina menina
Toda inocente
Desce a ladeira da
misericórdia que sente.

Delírio Na Sala de Espera do Cartório

Ela jogou o anel no meio do oceano
Bateu no fundou e criou barbatanas
Chegou a correnteza e o peixe abriu vôo
Não tinha mais espaço para tanta amplitude
Bateu numa nuvem e acordou de aliança!

[SEM TÍTULO] ou O Caracol E Suas Espirais

Por onde anda o caracol?
Lento em seu casulo labirinto espiral?
Como anda o caracol?
Não é de rastejos pegajosos
É de passos curtos no silêncio
Silêncio de sua voz, caracol!
Por onde sai o sopro de seu veludo?
É das antenas, caracol
Por onde intimidas qualquer suspiro meu?
Por onde andarei, caracol?
Em todos os seus caracóis de Eden?
Onde se escondes, caracol?
Será no centro de seu labirinto?
Ou será nele que me escondo eu?

[a danilo]

O SILÊNCIO DOS INOCENTES

Os passos desse chão são pra quem pisa
O resto é pura balela

O credo desses descrentes é pra quem reza
O resto é tudo maldizer

Ajoelhe-se, menino
Aprenda a prece que todos cantam
Sua voz já não se é audível
Não nesta terra de perdedores

O horizonte deste mundo é pra quem enxerga
E os cegos que vejam tudo em branco

A luz desse túnel é incandescente
Você que abra os olhos para ver melhor

Reza, menino, reza com força
Que o tempo não espera
Os círculos giram ferozmente
E você continua no centro

Essas mãos soltas no ar são para serem pegas por uma
No mais para tudo se bate palma

Esses corpos chocando na pista são para os que têm coragem
No mais é melhor não se estar vivo

Aprendeu, menino? A cartilha é curta.
Reza, mas reza com muita força
Que deus é completamente surdo
Ponha força em seus lábios para que se leia a alma!

Há pouco mais de dois anos conheci a pessoa que mais me irrita e mais me impressiona hoje em dia! Obrigado por existir Diomedes!

AO DIA QUE O MEDES (LUSO LÍRICO)

INTER-LÚDICO, SISTEMÁTICO, ENIGMÁTICO
SEM RESPOSTAS E COM TODAS ELAS
TODAS AS RESPOSTAS EM TODAS AS NOTAS
TODAS AS NOTAS EM TODAS AS TOADAS
CERRADO, ESTÁTICO, SECRETO MAVIOSO
FRATERNO ASSIM COMO AS OUVE
E AS OUVE EM VÍCIO LÍMPIDO
EM SEUS MÓRBIDOS ANTI-LINEAR
ANTE-TEMPO DOS ANTE-TEMPOS
NOTAS, NOMES, VERSOS COLECIONADOS
EM QUÍMICAS ESPIRAIS ESPELHADAS, PERFEITAS
FILHO DO SATÉLITE, DO ASTRO, DAS TELAS FURTA-COR
BUSCA DA TRILHA, EM BUSCA TRILHA DA VIDA
ONDE PASSA-SE O TREM, ONDE PASSA-SE OS SONS, A IDA A VINDA
O DESENCONTRO DE PERFEIÇÕES COMPOSTAS SÃO CANDURAS
EM SUA MENTE, SUA CAIXA LÍRICA
DESCERRA-SE QUAL ECLIPSE
E QUANDO DESCERRA, BRILHA MAIS QUE SEU FOSCO
É UM LUSO DE SONS. ALEGRIAS E CONTÁGIOS DISTANTES.

Histórias reais também podem virar poesias! A avó do Gaspar:

A VELHA E A MARIPOSA

QUATRO PAREDES QUE AS CERCAM
O CILINDRO QUE A COBRIA
O TEMPO QUE A TRANSFORMA
AS RUGAS QUE ENVELHECE E AS ASAS

A RUGA ENXERGA AS ASAS
AS ASAS ENXERGAM A LUZ
A RUGA SE ASSUSTA ALVA
DA ESCURA ASA QUE VOAVA

TÃO FRÁGEIS E DÓCEIS AS ASAS
E FRÁGIL A POBRE RUGA
QUE ATIRA O PESO SEM ASAS
NAS ASAS DA POBRE MARIPOSA

TÃO FRÁGIL E PERSISTENTE
AS ASAS SE TORNAM TRÔPEGAS
A RUGA SE LIVRA LOGO
AO PAPEL PELA JANELA ATIRA A DÓCIL.

Engraçado como há alguns anos atrás escrevi um texto sobre exatamente o que acredito hoje!

Credo Particular

A dádiva da alegria
Não se está com alguém
Nem ao menos está na busca infinda

É estar-se em si
Capaz de dominar o que se frustra
E os alguéns que estão por vir

É a simplicidade alcançada
E vista aos olhos de extremo complexo
De algo canalizado de maneira publicitária

Eu sou a simplicidade
Um tanto quanto que complexa
Sou o desvende das minhas frustrações

E a descoberta de novos mistérios puros
Que me canalizam ao oposto novamente
E de forma mais fugas

O que me torna puro ao pecador
O que me faz superior ao que me supera...
Eu serei sempre a razão e a inconsciência.

Qual a face do seu dado?
Enquanto as vezes que jogo dá zero!
Qual a linha do seu I Ching?
Enquanto minhas mãos só ficam no ying yang!

Embaralhe bem todas essas cartas
Que o meu jogo não está na mão de ninguém
A minha posição deste xadrez é incerta
E na cruz das cartas meu destino é o mesmo

Capture todas essas damas
Que na face dos dados ganho eu
Enquanto você tem de um a seis
Tenho todas as posições de zero ao infinito!

Esta é a sombra que me governa
Em toda luz que há
Uma nuvem de escuridão

Este é o fogo dos meus dedos
Em toda chama que há
Uma projeção e muita fumaça

Esta é a luz que me sombreia
Em todo elemento que há
Um verso e reverso que tem seu dia.

Onde estão escritas todas essas regras? Em que pedra talharam os mandamentos que tanto ouço e a todos desconheço? E que, no entanto, pulsam em meu gen; quando me apercebo me vejo agindo como quem, imperceptivelmente se é conduzido. Onde se tem escrito que preciso de outrem e, mesmo contra meus próprios princípios me vejo conduzido como um trem no trilho. E quando se sai dessa linha, descarrila uma catástrofe uníssona que todos se medram e apontam direções lineares; as quais não quero nem acho certo seguir. Quem detém toda essa força que me obriga a andar calçado? E, mesmo assim, com toda minha teimosia calço sandálias para seguir sozinho ao menos com meus passos.Ainda quando feto, éramos somente eu e meu cordão. Quando do parto, eu e meu umbigo. E agora somos três: eu, meu umbigo e meu cigarro. Este, que por vez larguei numa lata de lixo e agora segura minha mão e me beija quando recebo visitas do papel e da caneta. As idéias entram e saem da minha casa. Mas são essas que guiam minha vida.Que pena terei eu que escolher estes como meus parceiros eternos que não pessoas? Estas são presenças eternas e eternamente numa marca transparente. Os outros citados são matérias, palpáveis e eternamente solidárias. Que posso eu fazer ao olhar o fundo desse copo d’água enxergo apenas meus olhos mirando o horizonte distante e solitário.Mostrem-me onde estão todos esses tratados, pergaminhos, e pedras contidas do manual que vejo todos a seguir, enquanto eu, perdido em meu infinito particular, sigo as regras apontadas pelo meu próprio nariz. A partir de agora, meu mais novo companheiro.

Conta-gotas

Ping...
Pingou!
Oooondasssss...
Do centro à espiral
Da grande espiral ao centro
Espaço entre espirais
Espaço entre o centro
Quase infinitamente
À espiral
Pingou!
Ping...
Quantos passos?
De lá até cá?
Quantos lá e cá
Até o último passo?

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