Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

O que serão das ondas
Quando a água virar música
Quando todo úmido concreto
Abstrair de forma espectral?

O que serão das rochas
Quando o vento as dissolver
Quando o vento não mais se esbarrar
Em nada mais que o próprio vento?

O que serão das cores
Quando todas as casas
Esitverem pintadas de branco
E o branco o grande vão das idéias?

O que será de tudo que foi
Quando o que já é for passado
Quando o futuro não mais programado
Em nunca se saber o que encontrar?

Rio de Janeiro, Humaitá.

Mão com mão que lava a outra
Ainda assim que sendo duas
Mesmo ainda sendo quatro
Cada uma é uma só.

Rio de Janeiro, Janela do Roger, Humaitá.

Em tudo o que quero
E não penso no adiante
Esperei por esses dias
Um calor irremediavel

Ao passo que vejo
Abro a priore o olho esquerdo
Abraçando com o pé de mesmo lado
Frio como os lagos europeus

Me encravo numa ilha
Montada em dez andares
Meditando no sexto labirinto
Resguardado no frio da quente cidade.

Rio de janeiro, aeroporto santos dumont a espera da teresa

O supermercado parou. Os caixas pararam, as filas congelaram seu prosseguir. Exceto ele. Alí. Cansado. Idoso. Sem aguentar a insistente senhora que pedia para que ele saisse da fila e passasse à frente de todos. "O senhor pode passar! Passe!". "Não!" falou o velho à insistência da senhora gorda à sua frente. "A lei está com o senhor! Pode passar, é só um refrigerante. Eu quando tiver a idade do senhor passo à frente em qualquer caixa." Que se dane a lei! Eu quero ficar na fila. Que seja velha a senhora quando tiver a minha idade!".

Ela não entendia que o velho estava feliz naquela fila segurando sua PET de refrigerante. Estava vendo gente. No meio de gente de pouca idade. Ele estava fisicamente novo de novo. Como sua alma. Estava vivo!


No ar em algum lugar da Bahia ou Minas Gerais a caminho do Rio de Janeiro.

- Onde está, Simone
O coração daquele bamba?
- Pulou pra fora da cerca
Caiu na casa de Seu Doca
Foi confundido com qualquer peça
Cortado em mil pedaços
Vendido por bagatela
Em mil corpos degustado

- O que eu faço, Seu Doca
Pra ter de volta o coração daquele moço?
- Peça ajuda de Simone
Mas creio que não tenha mais jeito
O jeito é todo mundo viver
Com o coração do bamba
Pois já dizia o moço
Que o coração não é de um só

Pois então está tudo sambado
O bamba sem coração
Simone sem o seu pedaço
Seu Doca partiu do moço o coração
E cada mil com um pedaço.

*Título por Rômulo Bartolozzi

O que respiro
Passa em mim
Como o que sei
Da forma que entra
E quando se sai

Será que isso é só saudade?
E me despeço e boa noite
Com um joguinho de palavras
E sinto os seus dedos
Enlaçados em meu cabelo
Fecho os meus olhos meigos

O que se surge
No leito sem rumo
Como o que não sei
Suponho sua forma
Da falta que me lembro

Fecho os meus olhos meigos
E sinto seus dedos
Enlaçados em meu cabelo
Com um joguinho de palavras
E me despeço e boa noite
Será que isso é só saudade?

A Roger

Quando o gato sentou no meio da praça, ele se viu só. Materialmente só. E todo aquele sentimento fazendo companhia. O cachorro havia seguido seu caminho até a casa. Enquanto os coelhos se abrigavam do vento frio no nono andar: aos pares; aquecendo-se. E o gato no térreo da praça olhando as nuvens chuvosas no céu da madrugada. Estas só davam espaço para o minguar da lua ilminar a única estrela luzente.

E todo aquele sentimento acompanhando a sua tranquila solidão. Não mais era necessário abrir os olhos para ver a luz celeste da madrugada misturada aos postes de iluminação vermelhamente artificial. De olhos fechados as luzes dos postes se apagaram. A luz da lua, e só ela, adentravam às pálpebras peludas. O rosto do pombo se materializava cálido na mente. E tudo se misturava ao sentimento.

Era injusto o pombo saber voar. O gato em sua máxima sabia pular. E baixo. Os coelhos nem se preocupavam em saber se o gato poderia voar um dia. Ele poderia ter se jogado do nono andar enquanto o cachorro assistia. Mas foi preferível pegar o elevador e usar as asas da imaginação e esperar... até que o gato criasse asas e voasse para onde o pombo estava. A saber se chegaria o dia a que viessem a voar juntos.


(... porque nas fábulas os animais falam; aqui eles voam com a imaginação)

Nessa linha nada desenhada
Recorro ao risco oriundo
Onde o horizonte passou pela porta
Na mente da casa a mim tão distante

Na pauta cronológica estagnada
Nada de novo antes da linha de ontem
E quando for domingo
Reazarei que só me falte mais um

E quando tudo se alinhar?
Será tudo agrupado sem tecla desfazer
Ou cada lápis irá desenhar
No mesmo papel reclinado
As duas linhas de cada parte
Até que se juntem com o infinito

Nessa linha nada desenhada
Caminho de olhos fechados juntos ao distante
Que torce em meu peito a pauta anterior
De um futuro nada obstante

Na pauta cronológica estagnada
Desenho sem letras o meu horizonte
Até que o infinito não mais separe
Duas linhas em horizontes distantes.

A Roger

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