Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

De quando o tempo nos separa
Eu conto o as horas como um segundo
Milésimo a milésimo como de zero a um

De quando me deito para o tempo nos unir
Eu fecho os olhos como quem pisca do cisco
Para abrí-los de frente aos teus

Eu só espero o tempo
Pois ele é meu também
É nosso codinome!

A Bruno Almeida

De tanto em tanto contos
Em que prato anda essa fome
Se os talheres dessa rédea
São guiados pelas forças populares

Em que pátio astia-se a bandeira
De cada leme em sua mão
Se o timão da embarcação do mundo
É programado a navegar contra o universo

Por isso me rasgo
Me armo
Me alço
Me farto de tudo e de todos
E me jogo em queda livre
Nesse poço
D'onde todos dizem se fartar de água
Mas ainda caio
Sem ao menos ver um fim.

Primeiro texto que não é de minha autoria a ser publicado aqui! O segnificado é demasiadamente especial!

_____*_____

Para Filipe, Oliver, Brigída. Camila e Ricardo.

Estava cego. Meus passos não eram guiados por nenhum tipo de luz. Ia tateando os simulacros de espaços que me rodeavam, os espaços-sons que me machucava, eu caminhava sem procurar um rumo, o movimento era passagem, fuga, precipício. Eu tinha que esquecer o tempo, rasgar todos os códigos que estão escritos em meu corpo e deixar que meus passos fossem traiçoeiros. Queria afundar em névoas escuras, queria mergulhar em palavras vazias, precisava deixar que algo viesse, me abraçasse, marcasse com brasa meus dedos, rasgasse toda minha roupa, me destruísse por completo. E que no fim, só restasse sombras.

As vendas caíram. E meus novos olhos surgiram. Senti tanta angustia em ver a luz, o medo congelou meu corpo. Não caminhava, não ria, apenas via aquela coisa estranha se apoderar de mim, aquele calor manipulando meus desejos. Não sabia quem eu era. Fiquei tonto, perdido, sem saber que rota seguir num novo espaço, sem códigos antigos, para me guiar, me controlar, me dizer os quereres.

Algumas vozes vieram do nada. Não se repetiam. Não se contradiziam. Apenas me chamavam. Eu não estava mais cego. As vendas caíram. As vozes me deram força. Eu consegui enfrentar a luz e consegui caminhar em direção às margens de pedra. Sem medo, sem vergonha e com uma nova sensação em meu corpo, chorei, por que pela primeira vez, deixei que o vento abraçasse meu rosto. Criei coragem, as vozes me deram alegria. Eu consegui ver o mar.

16/03/2008
2h45min AM

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(Por Francisco Diemerson)

Era outono. E todo aquele jardim ainda isolado. Cercado pelas ervas daninhas. As flores secas e caídas. Algumas folhas também. O outono era sempre a pior fase para um jardim sempre tão bonito. Mas aquele calor outonal quase sempre o ressequia e o igualava ao horrendo muro de ervas daninhas que o prendia; mas, ainda assim, era o mais bonito. Nada se aproximava de tamanha beleza. Estava oculto. O verão havia sido mais ríspido que os demais. Nem os pássaros visitavam mais o jardim. Seriam seis meses de reguardo e eterna solidão... ou mais... Os pássaros eram os únicos que faziam companhia ao jardim. Porém, mera felicidade passageira, pois os pássaros estavam sempre a voar. O beija-flor era o pássaro mais querido, porque além da companhia beijava as flores tornando-as mais frondosas.

O inverno chegou. Para o jardim era a estação mais próxima da felicidade. Pois com a chuva, logo após viria a primavera: sol brando, bons ventos, pássaros e a eterna espera pelas borboletas. Assim como o verão, este inverno choveu mais que os anteriores e o jardim sentia um mix de felicidade e frustração. A espera pelas borboletas era sempre uma alegria interna. Algo sublime e inédito. Mas era frustrante continuar esperando sem a certeza do que estava por vir. Foram tantos os anos e estações com visitas de insetos e pássaros... mas este inverno nao foi igual aos outros. A primavera não haveria de ser.

O inverno passou. O sol da primavera aquecia como nunca. Aquela energia alimentava o jardim que a cada dia estava mais frondoso. Flores de exuberância jamais vista. O perfume por todo o ar atingia horizontes distantes. E o mais interessante de tudo: o muro de ervas daninhas estva completamente ressequido. Apenas algumas vagens verdes penduradas. Seria agora possível que o jardim crescesse por toda a relva? A primavera passava e nada das borboletas.

Chegara, então, o momento da visita dos pássaros. O jardim os esperava, mas nenhuma espécie aparecia; muito menos os beija-flores. E a primavera já estava em seu último mês. O período de visitação dos pássaros já havia passado. Nem os insetos, nem os humanos errantes para roubar belas flores. O jardim se sentia completamente solitário e certo de que aquela exuberância inédita fora em vão.

Há poucos dias do fim da primavera, o sol já começava a esquentar anunciando a chegada próxima do verão. O muro de ervas daninhas de tão seco estva cinza. O jardim, repleto de frustração por não poder se expandir; e muito mais pela solidão profunda. Solidão tamanha que não notou que as vagens não eram mais verdes e apaentavam mais secas com manchas coloridas. Sorte não ter visto para nao imaginar ser uma peste para acbar de vez com suas esperanças.

Fez uma noite fria. E na madrugada solitária lágrimas brotavam das flores como orvalho. Acabara a primavera. Já conformado, o jardim se assustou ao perceber que o muro de ervas daninhas havia caído. Parecia um tapete de palha muito seca; as vagens haviam sumido ou se misturado às ruínas vegetais. Já era completa a frustração do jardim. Ele passava a ter a certeza de que nada adiantava ser tão especial, tão diferente. Queria ser comum e sem exuberância como qualquer jardim.

Não fosse por uma cortina colorida que ao longe voava em direção ao jardim, ele já estava prestes a secar de frustração como as ervas daninhas. Borboletas jamais vistas em toda fauna e flora voavam para, enfim, se juntar ao jardim. Elas não eram borboletas como as outras. O tempo cercado pelas ervas daninhas foi válido. As lagartas demoraram, mas se alimentaram o suficiente a ponto de destruir todo o muro. A ponto de completar o jardim após tanto tempo dentro de casulos que mais pareciam vagens verdes. Chegara a hora do jardim se expandir pela relva. Ele estava com as borboletas que se esperavam. A felicidade era plena!

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