Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

Sem nada daquilo trivial
Clichê de modos universal
Eu me tenho mais que tudo

Sou nada daquilo que se pensa
Nada tenho do sentir, lembrar
Nada tenho do morar, chamar

Eu me tenho mais que tudo
Nem sombra que me dupliquei
Eu mais eu igual nada

Cospe para cima
Tudo desintegra
Onde nada é o nome de tudo
Eu sou tudo diante do nada
Ninguém me conta da tabuada
Onde tudo vezes tudo igual a nada

Sombra...
Saliva...
Clichê...
Você, eu...
Em tudo... nada
Sem dor, sem perfume
Sem lume ou frescor
Sem começo, meio e fim...
Com nada!

(continuação de "Sem Nome", "Sem Residência", "Sem Lembranças" e "Sem Sentimentos". Conclusão da série "Sem Nada".)

Um poço de nada
Nas águas profundas
Não tem residência
Memórias desnudas
Inominado a qualquer outro ser
Um poço vazio
Sem nada
Sem mágoas

Que pode fazer?
Que pode sentir?
Apenas abrigar...

Que pode fazer
Por alguém que não se chama
Que pode sentir
Por alguém que não se lembra
Apenas abrigar
Por alguém que não se mora

Que pode fazer?
Que pode sentir?
Apenas abrigar...

Um poço de único
Onde em tudo
Se sabe é de nada
E nada no vasto profundo
Das águas dos sem sentido
Afoga-se no esquecimento
De olhos fechados aos sentimentos
Um poço de nada, sem mágoas, sem nada.

(continuação de "Sem Nome", "Sem Residência" e "Sem Lembranças". Parte da série "Sem Nada". Finaliza na pt. 5 em "Sem Nada [ou Com Nada].)

"tempo tempo tempo tempo"
se tu não fosses tempo
que seria do meu sangrar
que seria do meu veneno
que seria do meu penar
"tempo tempo tempo tempo"
se tu nao fosses tempo
como seria sem nada passar?

(poesia inspirada pós-leitura do blog: http://maisummenosdois.blogspot.com/2007/11/ive-got-love-for-you-if-you-were-born.html com citação da citação feita no post de Caetano Veloso)

São elas
As malditas percorrentes
Das vias cerebrais
Me preenchem de fatos
De fetos, de desgostos
De engodos e depravação
Reprovação evacuada nos esgostos
Militantes presos na corrente

E agora foragidos
As malditas percorrentes
Me passeiam provocantes
Despertando emoções alheias
Vis, imateriais, imorais
Recordações, não mais memoriadas
Chuva de lavagem crucial
Cerebral formatação de tudo...

Menos de mim
Que permaneço ao meu redor
Repleto de nada
Sigo agora sem momento
Sem lembranças, sem medo
Sem gelo, sem frio ou calor
Somente os cabelos ao vento
Virgem do pesadelo mediocre
Que apagou minha memória
E eu começo em mim mesmo...

(continuação de "Sem Nome" e "Sem Residência". Parte da série "Sem Nada". Continua na pt. 4 em "Sem Sentimento")

Nada mais tem nome nesse país
Só eu tenho, mas não tenho residência
Nem telefone, nem e-mail
Ou qualquer comunicação para contato
Eu só me tenho...

Só quero achar o 5 do 2+2
E despistar meu ponto fixo
Não há casas, nem peito, nem abrigos
Só há o céu reluzente do meu mundo
E o chão dos mortos onde piso

Tire esses números daqui
Que meu lugar não tem número
Não tem rumo o jeito meu
Nem prumo o meu destino
É uma linha começo e fim
Para quando chegar o meio
Passar o trem e eu partir...
Sem residência!

(Continuação de "Sem Nome". Parte da Série "Sem Nada". Continua na pt. 3 em "Sem Lembrança")

Sempre sem nome
A partir de agora
Nem um filho nosso
É o que dá jantar sozinha
Sem nem me convidar

E continuará sem nome
Inominado este passatempo
Inanimadas serão minhas letras
Sem titulo com seu intento

Sempre sem nome
A partir de agora
Nem um filho nosso
Somente eu para assinar
Minhas letras e o divórcio!

(Primeira parte da série "Sem Nada". Continua na pt. 2 em "Sem Residência")

O que você ouviria para escrever algo profundo? Não sei se seria bem a necessidade de escrever algo profundo ou ouvir algo profundo... mais profundo do que o que se possa expressar poeticamente. Arvo Pärt é sempre uma resposta milimetrada. De tal forma que preenche o vácuo que a profundidade da situação me deixa e evacua de forma simples palavras que precisam ser arrancadas... esvaziadas de mim. Por pouco, muito pouco, senão momentos raros a prosa me abaraca de forma abraçante e desumana. Talvez a objetividade que a maioria de suas produções exigem eu corra para longe dela de forma a me aproximar mais rapido da subjetividade e da psicodelia da construção estrofal da poesia. Uma cirurgia. Tá aí, não escrevo coisíssima nenhuma. Sou nada nada de poeta. Sou um cirurgião. Mas tudo acasualmente, porque na verdade queria ser (quero e serei) um músico. Só não sei a partir de quando.

Ouvindo "Ludus", da peça "Tabula Rasa", do conjunto de sinfônias de Arvo Pärt.

Dois olhinho pequeninos
Pequenininhos como tu
Meu corpo segue a ordem desses olhos
Que alimentam sentimentos meus

Toda primavera em seu fim
Um calor não só de vento
Todo um horizonte musicado
Das notas que me ligam ao teu

Sempre assim,
Tudo a correr
Um costume acostumado no meu ser
Não é ruim
Nunca ruim
Sentimento impregnado no eterno
Eternamente dividido ao existir
Cada um com seu espaço organizado
Onde nunca se acaba sua lembrança

E esses olhinhos pequeninos
Pequenininhos como tu
Que farão dessa estante organizada
O que se passa vem por dentro e é outra coisa

Este é o meu desenho
É como entendo as linhas
Você não pode abrir a boca
E dizer que não sei desenhar

Estas são as minhas letras
Independente de quem faça
A música delas é minha também
Pois sairam das minhas letras

E em breve sairão do meu ventre...

Ligue-se assim
Em tudo que se passa
São sempre dois pontos
Um ponto
O outro contraponto

Repelem-se assim
Quando o ponto se aproxima
Está tudo determinado
Um ponto
O outro contraponto

Não desanima quando tudo
Somado a tudo que nunca se pensou
Se esvai feito água no chuveiro
Ralao abaixo te escorrendo para longe de tudo
Está tudo sempre tão óbvio entre dois pontos
Que quando dois não somam dois
É sempre um ponto e um contraponto

Veja-se assim
Que os limites termináveis
Chegarão sempre no fim
De um ponto
Ou um contraponto

Saiba-se assim
Chegará o dia inesperado
Em que a soma do infinito
Juntará um ponto
E um contraponto.

Hoje quis dar braços e pernas
Quis dar vida...
Uma boca e um coração
Àquele bilhetinho laranja

Li cada letra da mensagem
Como uma parte sua
Na intensão de preencher
Essa presença espectral maravilhosa
Que me torna tão vazio

Hoje descobri que nele encontro conforto
Descobri a prova de um começo
Que não quero que tenha fim
Então resolvi que sempre que ficar vazio
Vou ler o bilhetinho como a primeira vez
E escrever uma resposta até que os dias passem
Até que eu não leia o T. A. M.: que eu fale e escute!

Saudade é nada
Em tudo que passou
Agora impregnado no meu ser

Saudade é pouco
Do muito que inflei qual balão
Voando zeppelin no desconhecido

Saudade é nada
Em tudo que retornou
Agora masturbador de meus desejos

Saudade é pouco
Do muito que rapidamente passou
Tão lento que é para se passar

Senão tão impossível
Possível de se voltar atrás
De olhos fechados mergulhar
Em meio as rochas nesse mar
Nesse oceano de paradoxos inesquecíveis

Senão não é nada perto de saudade
Saudade é nada longe de tudo
Saudade é pouco pro que respiro agora
A dar meia volta em si
Olhando até quando não for mais saudade.

Ao Rio de Janeiro

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