Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

Só o tempo é capaz de mostrar os valores das palavras "sim" e "não"! Nada, nada antagônicas.

_____*_____
Afirmativa Ode Ao Negativo
Não sussurre palavras invisíveis
Desperdice seus traços em meus vermelhos
De tons imprevisíveis e enrustidos
Não diga nada além do olhar
Ouça a meu silêncio escandaloso
E me olhe sem reprovação da não-palavra
Roube meus braços no não-lugar
E deixe onde encontrou minha mente
Não diga nada além do "sim" respiratório
Ofegante dentro do meu peito enfartado
Outorgue a liberdade de minhas pernas
Que não obedecem seu não-caminho sussurrado
Dê-me a mão para que te levante
Deste solo úmido do suor puramente profano
Vamos unir o "não" e o "sim"
Que o dia está por vir.

Para todo momento uma canção... e por quê não uma canção triste para um novo começo: afinal algo acabou...

_____*_____
Elegorum ou Semente na Aurora*

É hora de começar
A se entregar
Entregar-se a si
Terminar todos os complexos

Os girassóis caminham
À luz do sol
Os pássaros
Ao néctar das flores

Que todo dia seguem
O simples ciclo
Do perfume
Qual simples ele é

É hora de começar
A pegar o controle
Usar a chave de si
E entrar no mundo.
(*título por Saulo Duque)

É o que acontece quando lemos a última página do livro antes de a história acabar! A história acaba do mesmo jeito, poré ela unca será mais a mesma!

_____*_____
A Última Página

Meus olhos ásperos
Lacrimejam diante do inevitável
Lágrimas internas que transbordam

Minhas mãos irão eternizar
Luto ao máximo que já se chegou
Longe onde jamais se possa talvez chegar

Meus olhos pararam no tempo
Livres das marcas sanguíneas
Libertando o que poderia ser e já não se vai

Medo de saber à frente
Lendo as últimas páginas
Luto ao que não se foi (inevitavelmente).

Quem nunca pensou em se despedir? Quem nunca pessou dar-se cabo pelo menos uma única vez? Quem nunca pensou em uma overdose única paa um adeus? Vai dizer que nunca pensou nisso?, pelo menos uma única vez!

_____*_____
OVERDOSE


Na lembrança ficará o perfume;
Na alma ficará a saudade!
A volúpia atitude de dar as costas ao público e
Tropeçar no palco, fará destas letras a última marca de quem
Será surrado e esquartejado pela natureza do inconsciente.

Arrancará o encéfalo e jogará urina em cima para regar...
Talvez nasça a humanidade da qual a Terra merece;
Para que possa acenar um adeus a quem dorme
E espera a eternidade acorda-lo no seu mundo.
No mundo que a só ele compete!

Agradecer e saudar por não prosseguir
E sentir o pesar por não ter escutado e ter ido de carona...
E velar pelo óbito do egoísmo e da inconseqüência
E derramar os oceanos pelos olhos, em cascata, no horrendo córrego da vida.
E tropeçar e cair de cara com o sono do desejo.

Tocam as harpas e acompanham-nas os violinos
Extasiando o coração de quem sempre se crucificou e
Sempre foi surrado pelo desentendimento.
E se despede com a mão no peito... contando...
Batida a batida de um coração que ressequiu.

É bom se viver um pouco fora das convenções... mesmo que seja no mundo das idéias.
_____*_____


O Narrador e Seus 3 Personagens

- É assim que você mostra
Toda sua sapiência
Divinamente profanizada?

- Interrogue-o mais que se deve
Ela ainda não lacrimejou

- É assim que você se descreve
Dentro dessa discreta discrepância
Sabendo-se quem ela é?

- Ele não sabe de nada...
Mas alguem deve saber alguma coisa

- Eu não sei nada alem do que não sei
Nem sei quem é ela, nem vocês
Sei apenas meu nome e quem não sou

(...)

Ninguém sabe nada
O que é ou quem é nada
Nem mesmo ela ou quem é ela!

Sejamos o que sejamos... Sintamos o que sintamos...

_____*_____
A Orquídea e O Girassol

I
Harold

Poucos os passos de morte
Que dei em vida inerme
Felicitado em lápides várias
De olhos fechados que nunca vi

Negros da luz ofuscada
Que me traria a ti
De muxoxos chamarizes
Arranques que fizeram de passos saltos

Que me trouxeram a ti
Em dois horizontes de uma só linha
De pensamentos antagônicos
De controle da tua alma e vida minha.


II
Maude


És a sombra da minha luz
Que fizestes antecedente e te ilumino
De minha última primavera
Florescer-me girassol em tuas orquídeas

Marcada por números que agora
Serão sua imaginação de por quês (e me iluminas)
Nossa intrínseca distância tão próxima
Essa extrínseca realidade regressiva

Que nos trouxe a nós
E agora sabemos onde estamos (sempre)
Saberás onde estou: onde estás (sempre).
É chegada a hora dos pontos se dissolverem...

III
O Profundo Mergulho


Então fecharemos os olhos
Aos teus já fechados
Ao que se acreditava
Em que nada se pode acreditar

A margarida que te florei ao peito
- À orquídea que desabrochei em ti.
Aos girassóis que te enfeitei na primavera
- Àquilo que jaze fundo d’água.

Que corro quilômetros de seus arranques
Palpita-me tudo de tua eterna velha primavera
Que a mim jazida em meus números passos
Dançada nas valsas que ensaiávamos...
(inspirado do filme "Harold And Maude")

E quem não gostaria de ser Ícaro um dia? Ao menos para voar um pouco e experimentar a liberdade e a audácia sem sentir que uma hora vai cair?

_____*_____


Mar De Liberdade (Filipe Freitas)

Abrir os olhos para o infinito e enxergar o horizonte;
Ter o céu a sua frente...
E o inferno atrás de você e ficar inerte:
Alheio às sensações de ambos.

Fechar os olhos para o mar que reflete seu semblante;
Ocultar a vida numa caixa de sapatos...
E descobrir que o nada é a ausência de tudo:
Que o mundo é uma gaiola que perece com o tempo.

Esperando o filme da vida passar
Em um rolo que cresce a cada novo crepúsculo!
De almas atadas pelos empecilhos
Que os impérios nos proporcionam.

Quero a chance de gritar...
E ensurdecer a todos que ignorem meu socorro!
Quero me jogar do alto... do mais alto dos montes:
Para cair sobre aqueles que não olharam para trás.

Sufoca-me a alma viver neste cárcere!
Amplo como a Terra... retrógrado como o Universo;
Curto diante do tempo... avante como o passado:
Derradeiro como a liberdade!

Vivo, mas não tenho vida para seguir...
Como, mas sem corpo para sustentar!
Vôo, apenas com as asas do encéfalo...
Regresso, apenas à minha insignificância de sorrir!

Quero voar pela vida a planar sobre o destino
E mergulhar nas profundezas da felicidade
Onde a morte não é capaz de alcançar
Ainda que ela me consuma!

Quero morrer para sentir o nirvana;
Quero viver para quebrar os empecilhos.
Quero a morte para quem não aprende a viver;
Quero a vida para quando a morte se fizer.

Reunirei todos os flagelos de esperança
Que em meu âmago se espalha.
E construir o passado no meu presente;
Para existir um futuro sem imperfeito.

Com as gotas de lágrimas que derramei
Em todo o meu fardo, que,
Leve e desprezível
Consumiu os únicos ombros que me haviam.

Subirei no topo do Ego do Mundo
E saltarei criador da liberdade!
Com a musicalidade das vozes
Viajarei por toda a minha alma. Bem alto!

E gritar até que todos os ignorantes fiquem surdos,
Para que possam sentir o peso do cárcere que criaram.
E cair sobre aqueles que eram animais-guias,
Para que fiquem cegos diante do poente!

O vento se transforma na brisa que me faz pairar.
Os bafos dos vulcões me fazem
Eclodir feito pena e pó,
Para o mais alto nível...

Fecho os olhos e respiro; alfa no sangue...
Tranco o corpo e solto a alma: beta na mente...
Abro os braços e aceno às ondas: gama na vida!
Fecho a alma e corpo se vai: NIRVANA!

Somente a luz do sol cremava meu corpo;
O vento transformava-o em pó;
A brisa espalhava-o pelos mares e pelas montanhas:
A água dissolvia-me na total liberdade almejada.

As ondas misturavam, cálidas e repletas de um ritual
As lágrimas que minha alma absorvera.
E penetro louco sob o abismo do Universo.
Transformado em areia na beira-mar.
(inspirado do mito de Ícaro)

Seguidores