Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

Respirar...
Meus dedos precisam respirar...
Minha mente corre
Demasiadamente

{Retorno em algum ponto de 2008}

Não quero ver ninguém
Até que tudo esteja pronto
Até que o ponto
Não tenha mais final
E o sentir me cegue no infinito

Só quero ouvir a seda
Até que meus ouvidos sejam música
Até que o tom
Não desafine mais
E que as rugas me corroam de saudade

Mas preciso voar...
Percorrer esses caminhos floreados
Até chegar num fim que dê em flores
E seja o possível começo da eternidade
Preciso levar...
Precisamente por águas tranqüilas
Até que os corpos fiquem à deriva
E chegue o momento de se dar as mãos
Face a face...

Suas barbas estão de molho
Mas a água há de secar
Esta cadeira que não mais balança
Um dia sairá do lugar
E olhe as lâminas
Apontadas para o depilar
A face nua outra vez
O semblante da fragilidade no ar
E a máscara
Que todos esses pêlos teceram
Solverá como talco no vento
E a mão que estava à espera
Afagará com o pó
A face multilada
Liberta.

Minhas páginas desse disco
Eu não me mudo
Não saio desta cadeira de balanço
Definho no meu ranso
Mas me afasto fatalmente disso

Como entranha do prefixo "des"
Desconfiguro, desarmo, demancho
Todo esse pó de lágrimas
Em sangue quente e viril
Uma cabeça como um lado de vinil

Eu nasci não sei há quantos anos mais
Não conto pra frente nem pra trás
Dobro esquina em esquina
Enxergando minha sombra idosa
Querendo voltar pra trás...
É noite...
E minha alma vive à frente de tudo
Inclusive de mim
Em resguardo à sua moradia
Estou de tudo ausente e fora
Fora de moda, da linha do tempo
Sempre o meio termo decidido
Começo de tudo para os dois lados
Eu sou a circunferência resumida a tudo.

Eu sou como um barco
Nunca à deriva
Encalhado em terras ermas
Eu sou aquele que não flui
Me desapego àquele mar
Salgado...
Espero o córrego que me leve
Tão doce...
À deriva
Eu sou aquele que se navega
Ao fluxo
Ao ar
À correnteza
Às rodas
Aos pés
Eu sou aquele
Que sempre navegará sozinho

Marinheiro
Pega a minha mão
Me joga nessa embarcação
Paravoarmos sós
Marinheiro
Eu vou sem a minha bagagem
Pois é só ida
Não tem volta não!

Não sou portador da esperança. A esperança que me transporte por seus lados. Sou apenas reportador dos meus anseios. Por isso penso. Causa malígna que me condena à meticulosidade de tudo que se passa. Pensar é o que alimenta minha ânsia de tudo; holisticamente da expectativa das coisas e do sofrer antecipadamente, efeito da capacidade de pensar e achar que tudo é premeditável.

Por isso escrevo. Pois a gangorra em que o ato de pensar me faz sentar sobe e desce: eu no extremo vivente, o vazio no extremo pensante. Quando subo, a vontade priori é de despencar lá de cima para que o pensamento voe como de uma catapulta. Mas prefiro me atirar aos papéis, porque o peso das palavras me faz por os pés no chão. E é aí que a esperança me encontra e me transporta para seus lados.

Estou começando a descobrir que meus sentimentos são letrados. Da próxima vez que houver transporte da esperança, pegarei carona de sua mão canhota e escreverei uma receita do sentimento vivido; para quem sabe um dia, carregá-la comigo. O pensamento é algo cabuloso.

1º) Pegue um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2º) Abra-o na página 161;
3º) Procure a 5ª frase completa;
4º) Poste essa frase no seu blog;
5º) Não escolha a melhor frase nem o melhor livro;
6º) Repasse para outros 5 blogs.

"Os lavradores do passado só tinham condições de arrotear escassas leiras à volta das aldeias; mesmo na Idade Média, não passavam de alguns hectares."

DREW, D. Processos Interativos Homem-Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

Eu amaldiçôo:

1. Rômulo;
2. Eduardo Valença;
3. Marcus;
4. Rodrigo;
5. Diomedes.

Olhe o controle
Está em suas mãos
Não o botão
Apertá-lo
Ou deixá-lo estático
Sem ação

Olhe o controle
Não está em suas mãos
Vem outro
E toma posse
Ou pode cair no chão
Danificá-lo

Automática
Mente
Desgovernado
Peito aberto
Olhos fechados
Dois pés na beira
Asas...

Quem era Virgínia? A irmã apaixonada pelo cachorro da cunhada. A filha da pederastia do pai com o tio. A colega apaixonada pela mãe da aluna, que por sinal era sua professora. A menina muda e nada surda que nas tardes após os deveres de casa ficava abaixo do fícus da praça ao lado de sua casa e escrevia o cheiro de seus cabelos; de forma a imaginar que todos iriam sentir o cheiro que as letras descreviam. Era a garotinha que abria a caixa de música que sua avó deixou antes de morrer, precedido de um beijo na boca, toda noite antes de dormir.

Quem era Virgínia? A adolescente que ia crescendo sem saber quem era e não fazia a menor noção de quem seria: apenas Virgínia até então. A menina que tragou seu primeiro cigarro aos quatorze anos e que aos dezessete ainda fumava calculando quantos dias passar com uma carteira de cigarros: no mínimo três dias. O máximo que ela conseguira fora dez dias. Ela também respirava antes de acender o cigarro e sempre dizia “mais um para uma morte lenta”.

Quem era Virgínia? A mulher que passou por todos os momentos possíveis e passou por todos. E que agora nada mais queria passar. Lia apenas seu diário com diversas descrições aromáticas de seu cabelo infantil; e sentia todos os cheiros profundamente. Inclusive o de feijão queimado. Era Virgínia, virgem, louca, sã, inconseqüente, calculista, metódica, mas ainda continuava muda e nada nada surda.

Quem era Virgínia? A velha no leito de morte a se olhar no espelho do seu quarto de asilo a se perguntar “quem não era Virgínia?”.

É saber, é sonhar
É viver, é sentir e ir ver
É não ver
Deparar-se repentinamente
Ter em confirmação
Daconjugação do verbo SER

Não estar, não marcar
Não morrer, nem chorar e correr
É mover
De um lado a outro
Sempre tudo solto
Já sabendo que rumo vai dar

Eu sou o que não estou
Tu não estás onde serás
Ele não é nada daquilo
Ela está a me visitar
Nós não somos nenhum guia
Vós estareis do meu lado
Eles não são deste estado
Elas estão onde serão
Tudo em seu jugamento
Devidamente separado
Ser e estar conjugado.

Centro
Um giro
Uma volta
Do ponto
Remete ao centro
Giros
Voltas
Pontos
Centros
circulares
Sem fim...

Eu tenho as minhas pedras
Para por em troca de algo dourado
Eu me guardo atrás dos livros
Fico escondida no giz
Eu transformo esperança em fada
O meu mundo é tudo o que eu quis
É labirinto que corro de olhos fechados
Eu sou a flor que nasce da morta raíz

É uma gota de orvalho
No meio do nada
Flamejando de ódio
Dizendo que nada é igual
Lá no fim eu sei
Que tudo dá num reino
Onde não há dúvida ou medo
Não existe nada ruim

A vida é um ciclo. O mundo é um ciclo. Leva 24hs para dar a volta em si. O homem faz parte desse ciclo e gira 24hs por dia junto com o mundo. Mas nem sempre se (quer) vê (r) o que se passa nesse ciclo. Um ciclo que engloba homens, animais, vegetais, inteligência, moral, liberdade - essa nem sempre cumprida e compreendida -, ética - que se confunde com moral, que se confunde com a capacidade de nem sempre ver as coisas -, e com muitas outras coisas que giram com o mundo, independente de se querer ou não. Inteligência, aspecto este que, se girasse 24hs por dia na cabeça dos humanos, assim como gira a Terra, todas as coisas que junto com o planeta giram, tudo seria um ciclo; tudo seria livre, moral, com eqüidade; tudo seria humano. Ou tudo seria Terra?

Lado A

Eu procuro por todo lado
Abaixo a tampa da vitrola
Eu viro o disco
E me arranho para encontrar
Eu me apanho desligado
Fico antenado quando deve
Eu sintonizo o mesmo aparelho
Atravesso a esquina
Eu viro o disco
E ainda ouço a mesma música
Eu me arrisco cegamente
Não me ponho em risco
Eu vou cautelosamente
eu viro o disco
Eu me vejo parado na loja de cd
Sempre à espera
Não sei de quê, não sei de quem
Eu fico em rota
Em rotação por minuto pulsando
Meu pulso perde a rota desse leme
Eu procuro por todo lado
Levanto a tampa da vitrola
E mais uma vez...
Eu viro o disco
*
Lado B

Eu viro o disco
E mais uma vez...
Abaixo a tampa da vitrola
Eu procuro por todo o lado
Meu pulso perde a rota desse leme
Em rotação por minuto pulsando
Eu fico em rota
Não sei do quê, não sei de quem
Sempre à espera
Eu me vejo parado na loja de cd
Eu viro o disco
Eu vou cautelosamente
Não me ponho em risco
Eu me arrisco cegamente
E ainda ouço a mesma música
Eu viro o disco
Atravesso a esquina
Eu sintonizo o mesmo aparelho
Fico antenado quando deve
Eu me apanho desligado
E me arranho para encontra
Eu viro o disco
Abaixo a tampa da vitrola
Eu procuro por todo lado.
*

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