Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

"Se eu pra eu te ver, então deixa eu dormir"*. Não quero mais acordar e ter à luz do dia seu holograma. Nem quero esperar que o sol se ponha ao acaso, enquanto eu o último plâncton do aquário. Não há peixes... tudo nao passa de sonho. Sentimento de platão. Poeira mexida em dias de eclipse. Que seja pó guardado no alto da torre. Petrificado à luz do sol. Estático, morto. Vírus. Sem elixir, sem movimento. Apenas sonho. Porque quando do acordar a realidade petrifica tudo. Realidade é sol. Isto tudo será apenas um gárgula admirável sem nostalgia. Em cima da estante, da torre, da porra da vida. Sem se mexer, sem me mexer, sem mexer em nada.

* Citação de "Os pássaros" composição de Rodrigo Amarante, presente no álbum "4" - Los Hermanos, 2006.

O momento em que me encontro cercado me faz parar bruscamente sem freio. Respirar, é a palavra de ordem deste momento que pede muita ordem. Duas coisas me tiram o chão, me volitam pra longe do real e me deixa imune a qualquer coisa, inclusive zumbir de moscas, salvo o zumbir do meu ventilador que me faz dormir: sentimento e inspiração - processo de criação intensa. E justamente os dois me assolam agora. Respirar é a palavra de ordem. Por hora escrevo, por hora respiro com música. E o que se faz sonoplastia de meus dias é Milton Nascimento. Irônicamente indicado para mim, como algo que seria a minha música, Guardanapos de Papel que não é de autoria do Milton, mas só o fato de ele interpretar já denomino como total dele. Cada música dele que eu conhecia se tornava peça de um quebra-cabeça que no fim seria o meu mapa. E eis que esta música se torna não peça, mas todo o quebra-cabeça montado. É isso: poeta, andante, errante, caminhante noturno, ironicamente livre.... sozinho. Sempre! Ainda que me dôa pensar assim, aceito isto como uma salvação. Serve de conforto. Respirar, é a palavra de ordem do momento.

Encontre qualquer coisa
Em qualquer rua, espaço
Encontre seus pares
Nesse ovo de mundo
Onde as linhas estão ligadas
Abraçando circularmente
Todo esse ovo redondo azulado
Até você...

Só não encontre nada
Em qualquer espaço, pedaço
Nem a mim
Nem seus lares
Muito menos as linhas do projeto
Nesse universo de cabeça
Onde tudo é pesquisado
Até você...

O mundo é um ovo
Mas minha cabeça um universo
De um único planeta
Completamente inabitado de corpos
Só letras, sentidos, sentimentos
Espaço para ser urbanizado
Explorado, colonizado por outros planetas
Inclusive você... só você....

Hoje amanheci com pássaros cantando antes do nascer do sol! Eles estavam todos pousados na minha cabeça... cantando e batendo asas!

Minhas linhas são tortas
Meus desenhos são lineares
Mas são linhas
Preciso de uma régua
Uma régua sem retas
Onde se possa virar curvas.

Vento que sopra
Até o rodopio de onde começou
Qual o bico que te produz
Qual a força que te manobra

Ciclo vicioso
Qua a pouco tempo se negou
Quem te traz sempre de volta
Qual o segredo de seu itinerário

Para os horários
Nunca é tempo de se voltar
E recomeça
Como se tudo fosse primogênito

Vento que sopra
Até o rodopio de onde começou
Leva como folha em teu caminho
Aporta na fertilidade de uma relva.

Em algum ponto de 2008
A partir deste ponto. Pronto!
Outros pontos serão traçados
A partir de agora
Além deste ponto.

Em algum ponto de 2008
Que começou dia 1º de janeiro
Será um ano inteiro
De passos descalços na relva verde
Com grama sedosa e aromática

Em algum ponto de 2008
Tudo recomeça de novo
Nada novamente de novo
A partir de agora
Além do ponto. Pronto!

Em algum ponto de 2008
Que começou de todo gosto
Novas palavras na boca e nos dedos
Novas letras soando na mente
Nova mente soando nas letras

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