Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

Era outono. E todo aquele jardim ainda isolado. Cercado pelas ervas daninhas. As flores secas e caídas. Algumas folhas também. O outono era sempre a pior fase para um jardim sempre tão bonito. Mas aquele calor outonal quase sempre o ressequia e o igualava ao horrendo muro de ervas daninhas que o prendia; mas, ainda assim, era o mais bonito. Nada se aproximava de tamanha beleza. Estava oculto. O verão havia sido mais ríspido que os demais. Nem os pássaros visitavam mais o jardim. Seriam seis meses de reguardo e eterna solidão... ou mais... Os pássaros eram os únicos que faziam companhia ao jardim. Porém, mera felicidade passageira, pois os pássaros estavam sempre a voar. O beija-flor era o pássaro mais querido, porque além da companhia beijava as flores tornando-as mais frondosas.

O inverno chegou. Para o jardim era a estação mais próxima da felicidade. Pois com a chuva, logo após viria a primavera: sol brando, bons ventos, pássaros e a eterna espera pelas borboletas. Assim como o verão, este inverno choveu mais que os anteriores e o jardim sentia um mix de felicidade e frustração. A espera pelas borboletas era sempre uma alegria interna. Algo sublime e inédito. Mas era frustrante continuar esperando sem a certeza do que estava por vir. Foram tantos os anos e estações com visitas de insetos e pássaros... mas este inverno nao foi igual aos outros. A primavera não haveria de ser.

O inverno passou. O sol da primavera aquecia como nunca. Aquela energia alimentava o jardim que a cada dia estava mais frondoso. Flores de exuberância jamais vista. O perfume por todo o ar atingia horizontes distantes. E o mais interessante de tudo: o muro de ervas daninhas estva completamente ressequido. Apenas algumas vagens verdes penduradas. Seria agora possível que o jardim crescesse por toda a relva? A primavera passava e nada das borboletas.

Chegara, então, o momento da visita dos pássaros. O jardim os esperava, mas nenhuma espécie aparecia; muito menos os beija-flores. E a primavera já estava em seu último mês. O período de visitação dos pássaros já havia passado. Nem os insetos, nem os humanos errantes para roubar belas flores. O jardim se sentia completamente solitário e certo de que aquela exuberância inédita fora em vão.

Há poucos dias do fim da primavera, o sol já começava a esquentar anunciando a chegada próxima do verão. O muro de ervas daninhas de tão seco estva cinza. O jardim, repleto de frustração por não poder se expandir; e muito mais pela solidão profunda. Solidão tamanha que não notou que as vagens não eram mais verdes e apaentavam mais secas com manchas coloridas. Sorte não ter visto para nao imaginar ser uma peste para acbar de vez com suas esperanças.

Fez uma noite fria. E na madrugada solitária lágrimas brotavam das flores como orvalho. Acabara a primavera. Já conformado, o jardim se assustou ao perceber que o muro de ervas daninhas havia caído. Parecia um tapete de palha muito seca; as vagens haviam sumido ou se misturado às ruínas vegetais. Já era completa a frustração do jardim. Ele passava a ter a certeza de que nada adiantava ser tão especial, tão diferente. Queria ser comum e sem exuberância como qualquer jardim.

Não fosse por uma cortina colorida que ao longe voava em direção ao jardim, ele já estava prestes a secar de frustração como as ervas daninhas. Borboletas jamais vistas em toda fauna e flora voavam para, enfim, se juntar ao jardim. Elas não eram borboletas como as outras. O tempo cercado pelas ervas daninhas foi válido. As lagartas demoraram, mas se alimentaram o suficiente a ponto de destruir todo o muro. A ponto de completar o jardim após tanto tempo dentro de casulos que mais pareciam vagens verdes. Chegara a hora do jardim se expandir pela relva. Ele estava com as borboletas que se esperavam. A felicidade era plena!

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