Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

Ele caminhava copiosamente em passos largos e demasiadamente firme. Sempre em frente. Como quem não tem direção. Alguns quilômetros o aproximavam do mar. E aquela rua reta que parecia não ter fim, sempre em frente. E ele a seguir o destino da rua. Passava cegamente por pessoas e animais pela rua, que olhavam assustadoramente para ele. Primeiro por suas feições cizudas; segundo por parecer que ele não percebia as pessoas na rua. Os animais instintivamente se desviavam de seu corpo veloz, mas algumas pessoas não tinham tanta destreza animalesca. Quanto mais se aproximava da praia, mais rápido seu corpo cortava o vento, cegamente; de olhos bem abertos a olhar o que sabia que lhe aguardava.

Chegou a pisar em dejetos de animais, ou de pessoas; eram dejetos. Hoje em dia é dificil, muitas vezes, separar os animais da humanidade. E era isso que o fazia andar sempre em frente. Pois essa rua foi o único caminho que ele encontrou para se salvar de tudo. O caminho do mar. Uma corrida contra o tempo. E cada vez mais rápido, seu corpo esquentava com a circulação que aumentava. Os olhos já avistavam a praia e o corpo a cortar o vento. O remédio já fazia efeito a distancia até a areia era pouca e o tempo menor ainda. Ao pisar na areia algumas pessoas observaram que sua velocidade diminuía e seu caminhar era cada vez mais trôpego.

Já pisava a areia úmida quando o corpo caiu na areia. Morto. O remédio na dose certa; no tempo certo; na distância certa. O que as pessoas não entendiam era como que, mesmo com o corpo imóvel no chão, sem vida, a vértebra continuava a cortar o vento velozmente por cima das ondas. Já em alto mar, buscando o infinito...

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