Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

Eles estavam sentados na cama. De frente para o espelho. E se olhavam face a face. Perfil a perfil. E relutaram durante horas a proferia a primeira vogal que definiria todo um destino começado a pino, hierbolicamente séculos atrás. O olho no olho foi decisivo. Fitaram-se por cinco segundos exatos. E o primeiro "A" saiu de sua boca:

- Não te quero mais...
- Não posso dizer o mesmo!

Respondeu incisivamente a outra parte mais marcante de toda a história. Eles continuavam frente a frente. Vez por outra a linearidade das faces se encontravam, mas nunca os olhos. O alfabeto poderia ter sido inteiramente pronunciado, em todas as línguas. No entanto, a frase decisiva expressada pela parte mais fraca e, de forma tão natural, ressequiu todo um roteiro ensaiado pela parte mais forte. Os olhos não se encontrariam mais. Não diretamente, não retina a retina como sempre houvera e, pela úiltima vez, se despediram.

E o espelho intácto. O mesmo que registrou todas as obscenidades e todas as juras e despromessas. Ele que sempre refletiu aquela cama, horas vazia, horas solitária. Horas amante, horas tratante de uma amor teórico há séculos.

O celular estava na comoda ao lado carregando. Os dois estavam lado a lado refletidos no espelho. Os olhos perdidos pelos metros quadrado limitados do quarto.

Era madrugada. Na região fazia frio. Um único coração relutante aos dois batia de forma compassada esfriando as duas fortes personalidades. Alí. Em frente ao espelho. Era ele o culpado. O espelho. Que ditou toda uma vida. Todo um mandamento de teorias que se perderam com aquelas palavras. Com a cara dele frente ao espelho vendo seu reflexo pelo olhar tangente.

Não mais haveria duas personalidades. Não mais haveria teoria alguma. Só haveriam as experiências; e a certeza do que viveu. Não mais haveria o reflexo do que se foi. Seria apenas a personalidade sui generis. A essência. A pureza.

Segurando o celular que carregava. Arrancou com toda força aquele ínfimo peso. Atirou prazerosamente no espelho. E gozou de alma ao ver os estilhaços. Hora de uma vida sem reflexos. As prateleiras estvam todas arrumadas. Apenas uma personalidade. Sem espelho. Sem o olho no olho daquele reflexo maldito. Hora de seguir um novo começo. Sem seu reflexo. Com uma sombra a busa de outra.

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