Poesia Permanente

"a forma de escrever é provisória, a poesia é permanente" Rosa Lia Dinelli

Eles haviam se visto a primeira vez há quatro anos em um show. Uma fila, uma corrida, uma parada, um sorriso, um adeus. A imagem daquele sorriso na memória. O começo de uma quase história. Por quase dois anos entre outras cenas repetidas como a primeira. Nunca verbos pulavam da boca. Apenas raios de olhares e peitos ofegantes. Nada que um mundo virtual não encurtasse essa distância, já tão curta. Ele o procurava. O outro o achou. Entre desejos e caracteres. Meses, após anos, o olho no olho recheado de palavras. Emoções como sempre pela metade. Ele alçava uma aureola no anelar esquerdo. O outro fazia com que ele tivesse duas meias histórias. A da aureola e a do outro.

Mais tempo. Mais espaço entre ele e o outro dentro de tão pouca distância. Um peteleco dado em alto mar. Tsunami. A aureola se quebra. Novas distâncias reunidas. Pôr-do-sol. Sentimentos tão recíprocos aflorados na ausência de palavras. A face se expressa aparentemente muito bem. E a distância tão presente sempre. Mesmo que tão perto. Sentados lado a lado e mais um pôr-do-sol. Sentimentos prontos cultivados como num jardim intocado. Regada pela distância imaterial. Uma astronave que leva ele pra longe do outro. E o outro surdamente se aproxima distante numa astronave do seguinte. Pensamentos que o trazem para tão perto. O retorno. O retorno. E o mundo virtual encurtando a distância. Um e-mail guardado. Sentimentos expressados em palavras concretas. O anúncio. O mistério. O segredo. Ciclones por quase um ano que emaranham as linhas que ligam ele e o outro. Tão pouco espaço e tão grande a distância.

E o sol se põe. E mais uma vez um encontro no mundo virtual aproxima todas as distâncias. O pôr de um novo sol. Tudo separado pela grama, pela altura e pelo movimento dos lábios que desfaziam compassadamente, como quem dança, os nós feitos pelos ciclones. Escuro. O tempo e a hora de se partir. Um nó ainda cego. O e-mail de outrora citado. Tanta especialidade. Ser tão especial era ele e o outro cantava isso como lobos ao vento frio de uma madrugada de lua cheia. O jantar. E o vácuo aberto entre ele e o outro. Uma distância nunca experimentada. Resguardo. Sentimentos ressequidos. Tempo... tempo... e a distância. Ele e o outro. O especial e o caos.

Muito tempo depois uma mensagem em sua caixa de entrada. Assunto: atraso na entrega de alguns anos. Remetente: o outro. Era um velho e-mail citado. Onde tudo era concreto. Negações, ojerizas, fora de desejo. Um pôr-do-sol de testes. E a confirmação do não querer. Sorte dele enxergar sempre a frente de tudo. Porque o outro não era só o outro. Era apenas mais um outro. Nada substancialmente diferente. Não diferente como ele. Ser tão especial era ele. Quanto ao outro, só mais um.

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