[Sem Título]
A menina balança a mão
E enquanto isso
O mundo dança
Dança o mundo ao reger da menina
O compasso do universo
Uma verdadeira música
Enquanto anda
Balança a mão a doce menina
E não sabe ela
Que quando não mais menina
Não mais balança a mão
Apenas, como o mundo, dança.
Chá Das Cinco Com Dalí
Sabe aquele dia
Bem no fim da tarde
Lá no passo fundo
Do meu coração
Eu olhei pro céu
Vi estrelas ao dia
Não era alucinação
Eram os meus pés no chão
Lembra do encosto duro
Da minha cadeira
Onde sempre sento para escrever
E sai os rabiscos da minha mão
Liguei o ventilador
E mirei-o ao teto
As areias dos sonhos
Voaram por meus cabelos
Façamos aquele chá de leite
Que se toma com semente de girassol
Embaixo da luz da lua
Em cima de uma serra imaginária qualquer
Respire fundo todo esse suspiro
E espirre o sonho em bambolê
Na saúde de querubim caído
Que o inverno já chegou!
Ponto Final
O ponto da frase quando molha
É semente e vira girassol
Segue todo raio de chuva
Da lágrima que não pode exprimir
O ponto da frase quando borra
É virgula e dá continuidade
Segue todo o compasso de verso
E reverso do que não se sabe
O ponto da frase quando aponta
É ponto de fim de frase
Encerrando de açoite toda uma idéia
Que não mais será frase.
O Ofício Do Crepúsculo
Pastava a cabra na relva do céu
Aparava as nuvens em formatos
Enquanto adormecia a realeza
Várias sementes vegtais adormecidas
Crescendo em vida da fertilidade
Campos e campos de todas as flores
Quando de ímpeto natural
Brotou o girassol radiante
Com seus espetos solares
Espetando todos os brotos
Da longa jornada noturna
Onde não se sabe o que se cresce
Espetou a realeza de seu sono profundo
Lembrando assim de todo o seu reinado
A fecundar os feridos desabrochados
Isto Está Acima de Tudo
É uma serra muito alta
E tudo está acima de tudo
É lá que se sente o aroma de café
E ainda sim está acima de tudo
É um campo de girassóis lá no alto
É um vento frio que acaricia o cabelo
É um sol quente que aquece o pé e o topo
E tudo está acima disto tudo.
[a dio]
A Ladeira da Misericórdia
A menina desce a ladeira
Desce a ladeira todo dia
Todo o dia a tarde, a menina
A menina no fim da tarde
No fim da tarde conta ladrilhos
Conta ladrilhos pela ladeira
Pela ladeira do começo ao fim
Chega ao fim da ladeira a menina.
Ladeira comprida
Ângulo incliniado
Desce a menina
Sem rebolado
Menina menina
Toda inocente
Desce a ladeira da
misericórdia que sente.
Delírio Na Sala de Espera do Cartório
Ela jogou o anel no meio do oceano
Bateu no fundou e criou barbatanas
Chegou a correnteza e o peixe abriu vôo
Não tinha mais espaço para tanta amplitude
Bateu numa nuvem e acordou de aliança!
[SEM TÍTULO] ou O Caracol E Suas Espirais
Por onde anda o caracol?
Lento em seu casulo labirinto espiral?
Como anda o caracol?
Não é de rastejos pegajosos
É de passos curtos no silêncio
Silêncio de sua voz, caracol!
Por onde sai o sopro de seu veludo?
É das antenas, caracol
Por onde intimidas qualquer suspiro meu?
Por onde andarei, caracol?
Em todos os seus caracóis de Eden?
Onde se escondes, caracol?
Será no centro de seu labirinto?
Ou será nele que me escondo eu?
[a danilo]
O SILÊNCIO DOS INOCENTES
Os passos desse chão são pra quem pisa
O resto é pura balela
O credo desses descrentes é pra quem reza
O resto é tudo maldizer
Ajoelhe-se, menino
Aprenda a prece que todos cantam
Sua voz já não se é audível
Não nesta terra de perdedores
O horizonte deste mundo é pra quem enxerga
E os cegos que vejam tudo em branco
A luz desse túnel é incandescente
Você que abra os olhos para ver melhor
Reza, menino, reza com força
Que o tempo não espera
Os círculos giram ferozmente
E você continua no centro
Essas mãos soltas no ar são para serem pegas por uma
No mais para tudo se bate palma
Esses corpos chocando na pista são para os que têm coragem
No mais é melhor não se estar vivo
Aprendeu, menino? A cartilha é curta.
Reza, mas reza com muita força
Que deus é completamente surdo
Ponha força em seus lábios para que se leia a alma!
Há pouco mais de dois anos conheci a pessoa que mais me irrita e mais me impressiona hoje em dia! Obrigado por existir Diomedes!
AO DIA QUE O MEDES (LUSO LÍRICO)
INTER-LÚDICO, SISTEMÁTICO, ENIGMÁTICO
SEM RESPOSTAS E COM TODAS ELAS
TODAS AS RESPOSTAS EM TODAS AS NOTAS
TODAS AS NOTAS EM TODAS AS TOADAS
CERRADO, ESTÁTICO, SECRETO MAVIOSO
FRATERNO ASSIM COMO AS OUVE
E AS OUVE EM VÍCIO LÍMPIDO
EM SEUS MÓRBIDOS ANTI-LINEAR
ANTE-TEMPO DOS ANTE-TEMPOS
NOTAS, NOMES, VERSOS COLECIONADOS
EM QUÍMICAS ESPIRAIS ESPELHADAS, PERFEITAS
FILHO DO SATÉLITE, DO ASTRO, DAS TELAS FURTA-COR
BUSCA DA TRILHA, EM BUSCA TRILHA DA VIDA
ONDE PASSA-SE O TREM, ONDE PASSA-SE OS SONS, A IDA A VINDA
O DESENCONTRO DE PERFEIÇÕES COMPOSTAS SÃO CANDURAS
EM SUA MENTE, SUA CAIXA LÍRICA
DESCERRA-SE QUAL ECLIPSE
E QUANDO DESCERRA, BRILHA MAIS QUE SEU FOSCO
É UM LUSO DE SONS. ALEGRIAS E CONTÁGIOS DISTANTES.
Histórias reais também podem virar poesias! A avó do Gaspar:
A VELHA E A MARIPOSA
QUATRO PAREDES QUE AS CERCAM
O CILINDRO QUE A COBRIA
O TEMPO QUE A TRANSFORMA
AS RUGAS QUE ENVELHECE E AS ASAS
A RUGA ENXERGA AS ASAS
AS ASAS ENXERGAM A LUZ
A RUGA SE ASSUSTA ALVA
DA ESCURA ASA QUE VOAVA
TÃO FRÁGEIS E DÓCEIS AS ASAS
E FRÁGIL A POBRE RUGA
QUE ATIRA O PESO SEM ASAS
NAS ASAS DA POBRE MARIPOSA
TÃO FRÁGIL E PERSISTENTE
AS ASAS SE TORNAM TRÔPEGAS
A RUGA SE LIVRA LOGO
AO PAPEL PELA JANELA ATIRA A DÓCIL.
Engraçado como há alguns anos atrás escrevi um texto sobre exatamente o que acredito hoje!
Credo Particular
A dádiva da alegria
Não se está com alguém
Nem ao menos está na busca infinda
É estar-se em si
Capaz de dominar o que se frustra
E os alguéns que estão por vir
É a simplicidade alcançada
E vista aos olhos de extremo complexo
De algo canalizado de maneira publicitária
Eu sou a simplicidade
Um tanto quanto que complexa
Sou o desvende das minhas frustrações
E a descoberta de novos mistérios puros
Que me canalizam ao oposto novamente
E de forma mais fugas
O que me torna puro ao pecador
O que me faz superior ao que me supera...
Eu serei sempre a razão e a inconsciência.